Os “Profetas do Apocalipse” da Segurança Pública

Já lá se vão mais de três anos desde que o país assistiu aos trágicos acontecimentos relativos ao sequestro do ônibus da linha 174 na cidade do Rio de Janeiro. Em seguida, o governo federal mobilizou-se, fazendo editar o Plano Nacional de Segurança Pública (junho de 2000) e, logo depois, instituiu o Fundo Nacional de Segurança Pública. Foi hipertrofiada a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, com ela passando a ser o centro das atenções de uma esperada “revolução na gestão”, supostamente capaz de proezas como reduzir os índices de criminalidade e reverter o clima de violência instalado no país. As coisas não saíram como esperado …

Desde junho de 2000, a cada mês que passa e as notícias sobre a segurança pública continuam chegando em tom cada vez mais alarmante, fica patente a Crise do Estado que tudo isso encerra. Quem são os sempre procurados “bodes expiatórios”? – Os policiais? – Sim, ainda, mas parece que eles não estão mais sozinhos. Uma infinidade de técnicos auto-proclamados em segurança pública, especialistas de última hora, começa agora a também ser vítima da síndrome do “decifra-me ou te devoro” da esfinge postada na beira do túmulo de cada um dos milhares de mortos pelo crime e pela violência …

Ao denuncismo crônico e industriado que se criou sobre a classe dos profissionais de segurança pública, juntou-se agora a “fritura” sistemática dos “acusadores de plantão”. Até parece que o mesmo monstro invisível que subitamente fabricou milhares de policiais “violentos e corruptos”, supostamente causa da crise da segurança pública brasileira, passou a ter agora uma frigideira maior ainda, instrumento onde são fritados os “salvadores da pátria” de ontem, leigos que anunciavam possuir a grande solução para tudo isso … – É óbvio que não tinham nem nunca terão a competência que anunciavam, em meio a um clima de pânico moral, espécie de “fim do mundo”, clima esse instalado e fomentado, inclusive, por vários deles.

Em nossas delegacias de polícia judiciária federal e estadual, nos quartéis das polícias ostensivas e nos estabelecimentos prisionais do país, persiste uma histórica e extremada escassez material, ao mesmo tempo em que a quantidade e a qualidade dos recursos humanos não condiz com as tarefas e responsabilidades exigidas. Os profissionais verdadeiros sabem disso muito bem … Mas ao grito de socorro de nossos agentes da segurança pública, tome cursos e mais cursos do Plano Nacional de Segurança Pública. Como se policiamento comunitário e direitos humanos, entre outros tantos temas mais, fosse tudo que os supostos “bárbaros policiais” precisariam em seu “processo civilizatório”, tarefa política reservada para leigos de várias espécies e matizes político-ideológicos. Essa gente, alegadamente sábia e “sem vícios”, pelo tempo transcorrido e estardalhaço de suas denúncias e planos mirabolantes, deveriam já ter posto as coisas nos devidos lugares. Não o fizeram …

Ao contrário do esperado e urdido, os “leigos sem vícios”, “messias de plantão”, passaram a ter um destino semelhante ao que eles próprios deram inicialmente aos profissionais da segurança pública: “fritura” na frigideira do “leviatã” …

Talvez já seja tempo de voltar a ouvir os tão detratados profissionais da segurança pública, agentes prisionais, bombeiros e policiais das várias instituições do país, dando a eles o crédito merecido em relação aos seus reclamos históricos por mais e melhores condições de trabalho. Afinal, todos os “profetas do apocalipse” foram tragados pelo mesmo buraco negro em que os agentes da segurança pública foram foram empurrados e colocados em primeiro lugar. Que tal chamar de volta os verdadeiros “profissionais da segurança pública”, dando a eles as condições de trabalho que pedem desde bem antes do início da crise?

George Felipe de Lima Dantas – 26 de outubro de 2003

Relembrando quase dez anos depois…

George Felipe Lima Dantas.

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