Natal e Apocalipse

Aproveitando essa época de final de ano, onde nos preparamos para o nascimento de Cristo, é bom recordar que chegará uma época em que essa renovação, esse dia que nasce e se põe, o ciclo das estações do ano e tudo mais, cessará. Esse dia foi previsto há quase dois mil anos pelo discípulo que Jesus amava, João.

No livro da revelação, em grego Apocalipse, João, o apóstolo mais fiel que o Cristo teve durante a sua curta vida na terra, teve uma visão, um arrebatamento, durante o período em que cumpria pena na ilha penal romana em Patmos, onde o próprio Deus Todo Poderoso o levou ao Céu e mostrou-lhe acontecimentos do presente e do futuro.

Nessa visão, como em todas as visões proféticas provindas do próprio Deus, a mensagem tem uma dimensão presente, para aqueles que viviam naquele tempo e local específico, e uma dimensão futura, muitas vezes literal, para as gerações vindouras.

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Desenho esquemático arqueológico que mostra onde o túmulo de São Pedro foi achado.

Um bom exemplo disso aconteceu quando Nosso Senhor Jesus Cristo disse a Pedro: “Tu és Pedro (pedra) e sobre ti erguerei a minha Igreja.” MT 16,18. Essa profecia se realizou em um sentido temporal, naquele momento, fazendo de Pedro o chefe da Igreja, o primeiro Papa, tendo a sua sucessão ininterrupta até hoje. Contudo, o que Pedro não sabia, é que após o seu martírio em Roma, junto com São Paulo, ele seria sepultado em um túmulo em uma colina chamada “colina vaticana”, onde permaneceria por trezentos anos. Depois, quando Santa Helena e seu filho o Imperador Romano Constantino se converteram a Fé católica, o local do túmulo foi escavado e uma grande igreja, uma basílica, foi erguida em cima. Essa basílica foi chamada de “Basílica de São Pedro”. Depois de uma grande reforma que praticamente a reconstruiu no século XVI, os registros do túmulo se perderam por quinhentos anos, até que no papado de Pio XII, nos anos 40, foi feita um descoberta arqueológica surpreendente: Abaixo do altar da basílica foi encontrado um túmulo do século I, onde estava escrito em latim: Pedro está aqui. Após testes e mais testes, chegou-se à conclusão surpreendente de que, realmente, naquele túmulo, estava o apóstolo que Cristo rebatizou de Pedro. Esse túmulo é a pedra angular que sustenta o altar da basílica, que foi construída a sua volta, que é a sede espiritual da Igreja de Cristo com mais de um bilhão de fiéis no mundo. Por isso, como foi dito, as profecias tem um aspecto temporal presente e futuro, muitas vezes literal.

Apocalipse de Joo
O livro da revelação de São João. Em Grego: Apocalipse.

Em seu livro, João escreve as revelações da mesma maneira, com uma leitura temporal e espacial da época, e outra futura. Por isso, é correta a interpretação do Apocalipse como um alerta as Igrejas da província romana da Ásia e dos alertas contra o Imperador romano Nero. Porém, existe uma dimensão futura nas profecias que, em alguns casos, se realizarão literalmente. É claro que como João era um homem do século I, há quase dois mil anos atrás, a sua visão e a correspondente descrição do que ele via, nem sempre são claras, pois, imaginemos como um homem daquela época descreveria o nosso tempo, com todas as máquinas e situações inimagináveis para uma mente antiga. Além disso, ele tinha a obrigação de escrever de maneira clara, e que o texto fosse entendido pelos seus leitores pelos séculos, logo, se fez necessário usar imagens e descrições que todas as pessoas, de todos os tempos, pudessem entender. Um caso típico é quando ele narra a batalha do Armagedom, onde ele diz: “O número dos cavaleiros do exército dos quatro Anjos era de duzentos milhões. Ouvi bem o número. Na minha visão, os cavalos e cavaleiros eram assim: vestiam couraça cor de fogo, jacinto e enxofre. A cabeça dos cavalos parecia de leão, e da sua boca saía fogo, fumo e enxofre. A terça parte dos homens morreu por causa destas pragas: o fogo, o fumo e o enxofre que saíam da boca dos cavalos. De fato, o poder desses cavalos está na boca e na cauda. As suas caudas parecem cobras: têm cabeças e com elas causam danos.” Apocalipse 9 16-19. Ou seja, quem garante que esses seres fantásticos, mistura de vários animais, não são tanques de guerra com soldados dos tempos atuais, com seus canhões cuspindo fogo e morte?

Natal (1)
Natal:Época de alegria e conversão.

Por isso, nesse final de ano em que comemoramos o nascimento do menino Jesus em nossas famílias e em nossos corações, devemos nos lembrar que chegará uma época em que comemoraremos o nosso último natal, seja por conta do Juízo Final, seja pela nossa morte natural, que ninguém sabe quando virá. Para que completemos essa meditação é necessário ler mais dois versículos do Apocalipse, onde o próprio Deus nos diz quais são as duas pagas que cada pessoa da humanidade poderá receber ao término da sua vida. O primeiro, é um prêmio, e diz respeito a aqueles em que Deus encontrou a sua Graça: O vencedor receberá esta herança: “Eu serei seu Deus, e ele será meu filho”. AP 21,7. Não existe prêmio maior do que este. Ser chamado de filho pelo próprio Deus. É a coroa dos vencedores. O segundo, é uma sentença, que Deus, por amor, explica de maneira pormenorizada, citando ponto a ponto quais são os comportamentos que levam a condenação e sua respectiva pena: “Quanto aos covardes, aos infiéis, aos corruptos, aos assassinos, aos imorais, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, o seu lugar é o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”. AP 21-8. (Grifos meus).

Devemos lutar, com todas as nossas forças e suplicando pela graça de Deus, para que, com a ajuda divina, possamos chegar ao final da vida e ao contemplar a Deus face a face possamos ouvir: “Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de pouco, eu confiar-te-ei muito mais. Vem participar da minha alegria”. MT 25,21.

Olavo Mendonça.

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