A DESINFORMAÇÃO CONTAMINA MAIS RÁPIDO QUE O VÍRUS

A desinformação é como um vírus, mas que atua de forma mais veloz e contamina uma quantidade muito maior de pessoas. Vivemos um momento de infodemia.

Atualmente a informação viaja mais rápido do que nunca, tanto a informação (certeza) como a falsas informações (desinformação), as chamadas “fake News”, A rapidez e o alcance com que se propagam depende em grande parte de quem dissemina, qual o interesse na disseminação e qual o meio utilizado para a contaminação. Ou seja, redes sociais, imprensa, discursos políticos, conversas entre pessoas etc., são os principais meios de transporte utilizados nesse processo.

Nesse contexto, se você como profissional da informação, necessita saber como ocorre a difusão da desinformação, deve inicialmente interpretar e analisar o seu conteúdo, identificar quem são os disseminadores, seus vínculos, sociais, políticos, profissionais, econômicos, éticos, ideológicos, bem como, com quem se relacionam e como se enquadram na dinâmica do processo de disseminação.

De acordo com o estudo denominado “Phase Transitions in Information Spreading on Structured Populations”, publicado pela Nature Physics, modelos matemáticos de contágio social que incorporam redes de interações humanas tornaram-se cada vez mais populares. Ainda nesse estudo o objetivo final das análises é calcular o ponto de inflexão em que os rumores e a informação se tornam virais.

O trabalho faz uma abordagem realística em sistemas sociotécnicos e define uma estrutura para caracterizar a dinâmica do modelo de espalhamento de boatos em populações. As descobertas destacam a importância da estrutura e cultura populacional na compreensão dos fenômenos de contágio social que irá influenciar no impedimento ou facilitação da difusão das informações.

Os autores concluíram que o processo ou fenômeno de contágio social pela desinformação é muito semelhante ao contágio biológico e acreditam que este estudo poderá ajudar a desenvolver no futuro um marco computacional que permita uma modelização mais realista dos processos de disseminação da informação.

Atualmente estamos todos expostos à desinformação. Estamos vivendo uma guerra de desinformação inigualável, envolvendo disputas de poder, políticas, sociais e econômicas. Compreendemos que as campanhas de desinformação de maneira geral têm como base somente os interesses pelo domínio.

Nos primeiros anos do século XX, os estados confiavam fortemente na propaganda e na informação para promover objetivos políticos. Durante a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, o governo britânico usou propaganda para manter a população motivada contra a Alemanha, enquanto na década de 1930 o partido nazista usou a nova tecnologia de mídia de massa para consolidar seu poder, usando estereótipos raciais para incentivar a discriminação contra judeus.

A desinformação hoje evoluiu, e com o uso das redes sociais, se tornou uma potente arma nessa guerra híbrida, baseada quase sempre em narrativas hostis, oposição de sentimentos e emoções que consequentemente expõe vulnerabilidades. Geralmente são feitas com uma mistura de informações verdadeiras com falsas, onde a narração dos fatos conta mais do que os próprios fatos.

As diferentes narrativas explodem as contradições, uma vez que atingem diferentes grupos. Os indivíduos escolhem os elementos da história que fazem sentido para eles, aceitando uma porção de informações enganosas. As narrativas hostis, organizadas por temas, baseiam-se principalmente em questões políticas e são compartilhadas em várias plataformas para potencializar a viralidade e causar mais danos.

A maior parte do conteúdo usado para criar essas narrativas hostis nem sempre é objetivamente falsa, mas tem a pretensão de reforçar a idéia do grupo social a que pertence. O objetivo também é polarizar e dividir, projetada para explorar fraturas sociais, criam uma percepção distorcida da realidade, corroendo a confiança na mídia, nas instituições e, eventualmente, na própria democracia.

Nos últimos anos, até as mídias oficiais parecem estar sendo usadas para este fim. Por motivos diversos, é perceptível o envolvimento de emissoras na guerra, tornam-se partes no processo de construção da desinformação, seja pela replicação da desinformação ou distorção da informação. As emissoras têm o poder de publicar “informações contagiosas”, projetadas e promovidas para causar intencionalmente danos.

A propagação das informações contagiosas contamina diretamente a massa vulnerável, as quais estão desprovidas de bom senso e entorpecidas pela desinformação. Só é possível afirmar que “esse verdadeiro vírus da informação” atenua o processamento consciente da informação, cria uma barreira intransponível para a confiança e promove cada vez mais as discordâncias.

A desinformação tem sido usada também para acobertar fontes que não apoiam determinadas posições de poder, e por esse motivo, a técnica vai ganhando força no seu conceito original, sendo: “a arte de enganar alvos para alcançar um efeito determinado, seja ocultando ou distorcendo fatos e induzindo os adversários a erro de julgamento”. De qualquer maneira, o que está evidente é que as percepções estão cada vez mais imprecisas, principalmente num momento em que necessitamos de mais certezas.

Celso Ferro.

[1] Sistemas sociotécnicos é uma teoria sobre os aspectos sociais das pessoas e da sociedade e aspectos técnicos da estrutura organizacional e processos. Faz uma abordagem sobre a interação entre as pessoas e a tecnologia na sociedade e nos locais de trabalho. O termo também se refere à interação entre as complexas infraestruturas da sociedade e ao comportamento humano. Nesse sentido, a própria sociedade, e a maioria de suas subestruturas, são sistemas sociotécnicos complexos.

Jessica T. Davis, Nicola Perra, Qian Zhang, Yamir Moreno, e Alessandro Vespignani. Phase transitions in information spreading on structured populations. Nature Phisycs. 2020.

Massimo FLORE, Alexandra BALAHUR, Aldo PODAVINI, Marco VERILE. Understanding Citizens Vulnerabilitiesto Disinformation and Data-Driven Propaganda. Joint Research Centre (JRC). 2019.

Fonte da foto: https://www.prweek.com/article/1672576/misinformation-hate-infect-social-media-users-alongside-coronavirus

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