Ceifados pela missão, o inimigo agora são todos

Não aguento mais. Durante muito tempo aqui no blitzdigital tenho me dedicado a uma tarefa arenosa, para dizer o mínimo, tentar homenagear policiais mortos em serviço ou em razão da função policial. Nos últimos tempos esta tarefa tem se tornado sensivelmente mais dolorosa, penosa, não apenas pela quantidade de guerreiros tombados mas pelas circunstâncias em que as tragédias acontecem. Quando nos prontificamos a servir em uma força policial temos consciência que enfrentar a morte é parte do trabalho, o que não está no contrato é ter que combater inimigos que, à princípio, deveriam estar jogando em nosso time. Um exemplo disso são as circunstâncias em que foi morto CB Luciano Pereira, da PMDF, assassinado por dois delinquentes, menores, que deveriam estar atrás das grades.

Fatos como este me impulsiona em uma direção inadequada, divergente daquela que deve ser adotada por um policial, e a tendência e o afastamento artificial da tragédia. Artificial porque na maioria das vezes estes acontecimentos estão muito mais próximos do que gostaria de admitir. Se a proximidade não está relacionada a relações pessoais ela se dá por estarmos todos habitando o ecossistema policial, onde nem sempre estamos no topo da cadeia alimentar. Aliás, ultimamente, temos descido bastante na “linha predatória”. Além dos inimigos naturais, pertencentes à espécie dos criminosos, temos que nos defender dos predadores oportunistas como a imprensa, as ongs, os “defensores dos direitos humanos”, fazedores de leis e até nossas diletas excelências do judiciário.

Cercados por todos os lados os policiais têm sido ceifados, famílias destruídas, filhos que se tornam órfãos. Os funerais e honras antes de acalentar o coração dos que ficam tornam a dor quase insuportável, aliás, medida fundamental para termos a mínima noção da perda e do sacrifício embutidos na despedida de um policial morto pelo pecado mortal de cumprir seus juramentos.

A minha tentação é sucumbir, tentar fechar os olhos para os diversos casos, cada vez mais próximos, dos companheiros de farda tombados. Como se fugir do problema pudesse de algum modo me proteger do inevitável. Nenhum policial pode se dar a este luxo. Encarar a realidade e confrontar as mazelas da carreira são mais que uma necessidade é obrigação.

Neste sentido, a morte do Cabo Luciano Pereira é emblemática ele foi morto não apenas pelos criminosos que tentaram roubar sua arma. Mas não se pode negar a participação ativa do fogo “aliado”, seja pela omissão da justiça mantendo criminosos nas ruas, pela conivência dos legisladores promovendo leis injustas ou pelos apelos cínicos dos defensores dos direitos humanos que nunca conseguem ver em um policial um representante digno da espécie.

Cabo Luciano Pereira
Cabo Luciano Pereira

O único modo de honrarmos os heróis que se foram é lutar por justiça enfrentando nossos inimigos em todos os campos que se manifestem. Amando a verdade acima de tudo e sabendo que a missão precisa ser cumprida, mesmo com o sacrifício da própria vida.

Que o Senhor Jesus possa enviar seu Espírito Santo para consolar os corações dos amigos e familiares do Cabo Luciano Pereira. Que todos nós possamos nos acalmar os corações nas palavras do evangelho:

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. (Mateus 5:9)

Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar

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