Não somos apenas números

O Sargento Hélio Cardoso Lopes foi morto por criminosos na noite desta quinta-feira (06/07), em Piabetá. São agora 86 policiais militares mortos, só este ano.
Toda vez que recebo a notícia da morte de um companheiro de farda dois sentimentos entrelaçados me tocam a alma: tristeza e revolta.
Como policial e pai, compartilho o sofrimento das famílias, dos amigos e dos colegas mais próximos. Como gestor de segurança pública e comandante de uma tropa de mais de 45 mil homens e mulheres, não consigo esconder minha revolta com a omissão e, às vezes, o pouco caso de representantes de alguns segmentos da nossa sociedade.
Os agentes de segurança pública, sobretudo os policiais militares, são tão vítimas da violência como qualquer cidadão. E com um agravante incontestável: quando reconhecido pelo criminoso, o policial não tem outra saída senão matar ou morrer. Esse “detalhe”, nem sempre lembrado por especialistas e críticos, explica o fato de a maioria ser morto em dias de folga.
Muitos policiais aproveitam a folga para reforçar o orçamento doméstico e dar mais conforto à sua família, prestando serviço de segurança privada. Essa constatação pode ser comprovada estatisticamente. Nos períodos de maior dificuldade econômica, como o atual, aumenta a ocorrência de mortes. Durante o ano de 2016, foram mortos 77 policiais, um número inaceitável, mas inferior ao registrado no primeiro semestre deste ano.
Investir mais em segurança pública significa criar condições para reduzir os indicadores de violência em geral e a estatística de companheiros mortos em particular. Por isso, não temos medido esforços para sensibilizar o governo federal para que aporte recursos financeiros na área de segurança do nosso estado e cumpra com mais eficiência sua missão constitucional – patrulhamento de rodovias federais, vigilância das fronteiras, combate sistemático ao tráfico de armas e drogas. Lutamos para restabelecer o programa RAS (Regime Adicional de Serviço), incluindo a regularização das cotas que não foram pagas. Durante o período em que esteve em vigor, o RAS proporcionou renda extra aos policiais, evitando que muitos migrassem para a informalidade.
Outra frente de luta para tentar reduzir as perdas de vida em nossa Corporação é o Programa de Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional (QAP), planejado e já colocado em prática pela Coordenadoria de Assuntos Estratégicos (CAEs). O policial passa por um processo de reciclagem profissional, melhorando sua capacidade operacional e reavaliando suas condições físicas e psicológicas.
A morte de policiais não pode ser tratada como estatística, mas como uma afronta à sociedade. Os policiais são os nossos verdadeiros heróis. E assim devem ser considerados. Está mais do que na hora de oferecer a esses combatentes incansáveis melhores condições de trabalho e seguridade social, como também uma legislação penal específica para protegê-los.
Seria muito oportuno que especialistas e ONGs incluíssem esse tema de forma série e objetiva em suas louváveis campanhas e manifestações pela paz.
Por Cel Wolney Dias – Cmt Geral Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

One Reply to “Não somos apenas números”

  1. Triste situação que estamos vivendo hoje no Leste de Minas Gerais, quando um companheiro, no município de Santa Margarida, defendendo a sociedade a quem ele servia, teve a sua vida ceifada por covardes marginais…

    “(…) mesmo com o sacrifício da própria vida…”

    Descanse em paz Cabo PM Marcos Marques da Silva….

    http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/cabo-da-pm-e-assassinado-em-tentativa-de-assalto-a-bancos-em-santa-margarida.ghtml

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