O perigo ronda a multidão

O Brasil vive hoje uma onda de manifestações que tiveram seu estopim em um protesto na cidade de São Paulo, sob a bandeira do inconformismo pelo aumento de vinte centavos na tarifa do transporte público. Corrupção, gastos exacerbados com as Copas das Confederações e do Mundo, PEC 37 e ausência de investimentos em educação e saúde são os principais fatores que, amplamente divulgados nas redes sociais, alimentaram ainda mais a revolta popular.

A cada dia, um número crescente de pessoas de todas as classes sociais, idades, religiões e preferências políticas distintas se junta às marchas espalhadas pelo país. Essas pessoas se dividem, basicamente, em três grupos: o primeiro, formado por indivíduos que estão ali pelo ato do protesto, que é legítimo, manifestando indignação de forma pacífica; o segundo, composto por aproveitadores que se juntam à multidão para cometer diversos crimes, que variam dos danos ao patrimônio público a saques a comércios e agressões a policiais militares; e o último – e é por isso que vale o alerta –, que se caracteriza por cidadãos altamente influenciáveis pelo grupo interessado na desordem. Alguns deles, provocados pelo apelo de mal-intencionados, acabam por engrossar a massa disposta a cometer crimes e todo o tipo de ato de selvageria.

Um exemplo interessante dessa composição social da marcha protestante foi registrado pelo setor de inteligência da Polícia Civil do Distrito Federal. A PCDF identificou, recentemente, pelo menos três dos suspeitos responsáveis por arremessar coquetéis molotov em direção ao interior do Palácio do Itamaraty, em Brasília. Um desses homens, segundo investigação policial, tem o perfil de um criminoso contumaz: permanecia em prisão domiciliar por furto e já havia respondido por crimes de lesão corporal e invasão de domicílio. A PCDF também revelou que os demais suspeitos são ligados a torcidas organizadas de futebol e aos chamados grupos punk. Esses indivíduos, misturados à multidão – diga-se de passagem, formada em sua maioria por pessoas civilizadas –, obtiveram a camuflagem que precisavam para cometer delitos.

Mas esse não foi um evento isolado. No Distrito Federal, desde o início das manifestações de rua, as delegacias de Polícia registram inúmeras ocorrências como resultado dessas grandes aglomerações populares. Em muitos desses casos, manifestantes pacíficos são vítimas de manifestantes mal-intencionados. Estão reunidos por uma mesma causa, mas com posturas sociais completamente diferentes, o que gera grande prejuízo ao próprio movimento democrático.

Em outras unidades da federação, esse conflito exigiu o uso progressivo da força policial. Cabe destacar: corretamente aplicado, num momento em que a Polícia Militar cumpria seu dever legal de conter o descontrole ou a fúria dos agressores. Misturados a essa massa, um pequeno número de manifestantes pacíficos foi infelizmente atingido por armamentos não letais (cartuchos de borracha, gases lacrimogêneo e de pimenta) – o que é absolutamente previsível em situações de multidão. Ou seja: grandes aglomerações populares são sempre perigosas para qualquer cidadão, ainda que as ações de contenção e repressão sejam estrategicamente executadas. O risco de se fazer vítimas é inerente a atos públicos dessa natureza – nunca se sabe quem é quem na multidão.

É com esse propósito que as polícias agem firmemente, e, de fato, não há que se tolerar marginais disfarçados de manifestantes. Porém, manifestações populares são legítimas e encontram respaldo na ordem democrática vigente desde que a lei e a paz social sejam respeitadas. Esse é o dever de cada brasileiro que está verdadeiramente interessado em construir uma nação melhor.

Otávio Flores.

Fonte da foto: O diário.

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