Saiba o que é PNP – Portador de Necessidade Policial

Com aproximadamente 25 anos de atividade policial posso asseverar-lhes: nunca ficou tão evidente a provocação de uma miopia social em torno das forças de segurança no Brasil. Explicando: é como se você dialogasse com alguém que lhe diz: ” não nego que eu tenha olhos, mas tenho que admitir que enxergo tudo sem foco.”

Surgiu uma perigosa verdade: a de lhe privar da melhoria de suas condições de segurança. Não falo isso enquanto profissional dessa área, mas como um cidadão que tem filhos e netos que sempre dependerão das proteção do Estado para melhor conviver diariamente dentro e fora de suas residências e dos ambientes que frequentam.

Nos pareceu que a polícia não tem como cliente o cidadão. Falo isso citando 03 variáveis muito fáceis de serem percebidas: 1) os últimos acontecimentos e números da violência contra policiais; 2) as últimas críticas da imprensa e 3) as últimas discussões do legislativo sobre algumas atividades policiais. Vejam como isso é impressionante e paradoxal. O cidadão deve ser tratado, segundo a visão de alguns, como um ente de quinta categoria quando o quesito é a proteção que ele necessita.

Como últimos acontecimentos e números (item 01) cito mais de 1700 policiais mortos de 2009 a 2013, sendo 490 apenas no último ano mencionado, tudo do Anuário de Segurança Pública. Isso promove um novo tipo de pensamento. Quando falo de críticas da imprensa (item 02 – Parte I), lembro-me ao famigerado jargão jornalístico “Faltou notícia, pau polícia”. Próximo de um discurso semi-gramscista, atacar a quem tem uma conhecida fragilidade é fácil. Só tem um problema: quem vai defender os cidadãos quando se investe em um enfraquecimento policial?

E por último, contudo não menos importante, quando falo de discussões do Poder Legislativo (item 03), lembro-lhes doP1110909 Projeto de Lei 4471/12, que praticamente diz que todos os policiais se assemelham com bandidos. Ele indica que, em um confronto com agressores sociais em que haja o resultado morte ou lesão corporal, o policial deva ser preso em flagrante até que tudo seja apurado. Em qualquer circunstância.

Será que todo policial brasileiro se enquadra nessa moldura de maldade? Os números devem ser pulverizados indiscriminadamente para alcançar a cada agente de segurança que protege as famílias brasileiras? Todos os estados do Brasil apresentam o mesmo nível de violência e de desvios? Eu questiono severamente essas variáveis e a pecha assassina que elas desejam representar.

Não me parece razoável aceitar que depois de 30 anos de terminada a Ditadura ainda aceitemos o impensável discurso de que a polícia é a única culpada pelos pecados do mundo. E já não cabe mais o “… tende piedade de nós!”. O Cordeiro de Deus é outro, com todo o perdão que eu possa pedir pela metáfora feita. Hoje ocorre um sacrifício deliberado, sim, do bem estar dos cidadãos de bem e de seus familiares. Não cabe ao policial tirar todos os pecados do mundo. Ninguém mais duvida disso.

É imperativo um novo despertar. O investimento para o cidadão, feito pela segurança pública enquanto preposta do Estado carece de ressignificação. Cito apenas um exemplo. Um carro policial de melhor qualidade é para atender a mim e a meus filhos. Tem gente que ainda imagina (item 02 – Parte II) que isso é para dar conforto ao Policial Militar, ao Policial Civil, ao profissional do DETRAN. Tecnologia de ponta para a segurança é luxo ou nos ajuda de alguma forma? Ser atendido pelo 190 em um tempo reduzido é melhor ou pior? Estão lhe induzindo a acreditar que isso é ruim. E, pior, há pessoas que estão caindo nessa ardilosa armadilha.

Em dezembro próximo passado o Secretário de imprensa da Casa Branca foi claro em mencionar que, diante de possíveis desequilíbrios em ações policiais, deveria ser ressaltada a importância de um relacionamento forte e colaborativo entre as agência policiais e o cidadão. Em nome do Presidente americano Barack Obama foi dito mais: ” A nação tem observado que aobama police confiança entre as Corporações Policiais e as pessoas a quem elas servem e protegem é essencial para a estabilidade de nossas comunidades, da integridade do sistema de justiça criminal e da disponibilização de serviços policiais confiáveis e efetivos” (minha tradução livre).

A diferença do que acabei de mencionar é que eles não param no discurso. Isso resultou em maior investimento em treinamento, equipamento e construção de normas para melhorar o serviço prestado ao cidadão. São 263 milhões de dólares liberados para otimizar a defesa das pessoas.

A seriedade com que os americanos tratam a proteção de seus cidadãos impede que eles utilizem a fórmula simplista de culpar o policial para expiar os erros de quem, em outras instâncias, não fez seu dever de casa. É interessante como algumas pessoas deixam de pagar a energia e colocam a culpa na televisão no momento em que não conseguem ligá-la para assistir à novela das nove. Como diz meu filho adolescente ” É tipo isso.”.

Uma segurança ruim deságua em um comércio enfraquecido, uma comunidade amedrontada, em famílias sitiadas em seus próprios lares e em mais dinheiro saindo diretamente do bolso do cidadão para garantir sua integridade. Deixamos de nos preocupar com a convivência para nos preocuparmos com nossa sobrevivência. E cada um de nós é quem paga quando uns poucos acreditam ser justo e perfeito o enfraquecimento de quem, em um juramento institucional, jura proteger a vida alheia com a sua própria.

E ficam 03 breves perguntas:

É essa a Capital da Esperança que desejamos?

Afinal: Qual o valor de sua vida e de sua família?

E mais: você já se sente um PNP – Portador de Necessidade Policial?

Leonardo Sant’anna.

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