Somos todos TROPA DE ELITE

O início da concepção da obra Tropa de Elite se dá ano de 1998 com Rodrigo Pimentel à época capitão da ativa da Polícia Militar do Rio de Janeiro, atualmente na reserva, naquele ano ele protagonizou um documentário chamado Notícias de Uma Guerra Particular (ainda disponível no You Tube) que denunciava as três vertentes da realidade do crime na cidade do Rio de Janeiro a do traficante, a da população, e a do policial sendo essa última representada pelo próprio Rodrigo.

Desse documentário posteriormente surgiu a ideia do lançamento do primeiro livro Elite da Tropa (2006) e posteriormente do filme Tropa de Elite missão dada é missão cumprida (2007) dirigido por José Padilha, estrelado por Wagner Moura com roteiro do diretor em parceria com Braúlio Mantovani e Rodrigo Pimentel. O filme Tropa de Elite ficou marcado por um fenômeno mercadológico, chegou às bancas de venda de DVD’s piratas antes da estreia nos cinemas fato que não impediu um excelente resultado de bilheteria.

Posteriormente ao primeiro filme foi lançado o segundo livro A Elite da Tropa 2 (2010) e mais um filme Tropa de Elite 2 (2010) o inimigo agora é outro superando o público de sucessos hollywoodianos como Avatar. O filme Tropa de Elite 2 entrou para  a história dos campeões de bilheteria no Brasil, segundo o Portal G1 “Em novembro, o filme de Padilha atingiu a marca dos 10 milhões de espectadores e sagrou-se o mais visto de 2010 no Brasil, entre longas nacionais e internacionais.” Fato considerado pelo diretor como um verdadeiro milagre.

Esse conjunto é um best seller brasileiro o público não consegue ter uma imagem dos livros dissociada dos filmes e não é necessária essa desvinculação, apesar das narrativas serem diferentes a essência das obras é honestidade X desonestidade. E os livros influenciam e são influenciados pelos filmes e vive versa. Assistir aos filmes (pressuponho que o leitor já tenha feito) e a leitura dos livros são obrigatórias, para todos os policiais, aqueles que desejam ser policiais e para a sociedade de bem que procura compreender as relações entre a polícia, sociedade, grupos criminosos e políticos.

Os filmes já foram parodiados em programa humorísticos, na área de gestão de pessoas criou-se o empowerment relacionado a uma equipe “tropa de elite” nas organizações, a cor preta e a caveira que representa os policiais possuidores de curso de operações especiais assumiu uma representação da obra perante a sociedade. Atualmente os dois filmes já foram exibidos na TV aberta brasileira estão à disposição em DVD e Blue-ray. A pirataria no mercado cinematográfico brasileiro impossibilita saber quantas pessoas assistiram ao filme no Brasil, mas o filme e seus personagens estão arraigados à cultura brasileira.

Essa relação visceral entre os policiais, a sociedade brasileira e a obra tem explicações. A “ficção” apresentada no roteiro dos filmes, bem como o desempenho dos atores, é tão similar à realidade vivida pelas polícias militares que todos os policiais militares brasileiros se sentiram muito identificados. Essa similaridade não é ao acaso a obra é baseada em memórias jornalísticas e relatos pessoais com as devidas adaptações daqueles que contam a história.

Na epígrafe, os autores fazem alusão à relação entre o efeito de sentido de realidade e de ficcionalidade que criam em sua narrativa autobiográfica: “Este livro narra histórias verdadeiras e fictícias. Cabe a você aplicar os adjetivos a cada uma delas” (SOARES et al., 2010, p. 5).

A possível identificação que policiais militares fizeram da narrativa, de Tropa de Elite missão dada é missão cumprida, baseada na atuação dos policiais do Rio de Janeiro no combate da guerrilha urbana talvez esteja relacionada à precariedade dos recursos materiais, ao assedio moral e principalmente às práticas observadas no Curso de Operações Especiais. Soma-se a isso um contexto de cultura organizacional e de relações de tratamento observadas no filme que à época eram idênticas as de muitas corporações policiais militares.

Já o segundo filme “o inimigo agora é outro” trata da interferência da corrupção nas instituições brasileiras na atividade policial militar. Esse filme que completa agora sete anos apresenta uma narrativa tão atual que dispensa qualquer comentário relativo à sua contextualização.  Ficam apenas as reflexões: será que a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça Federal estão desbaratando esquemas de corrupção que já existiam naquela época? Será que a narrativa do filme tem relação com a crise econômica vivida pelo estado do Rio de janeiro?

Fato é que esse conjunto de obras é capaz de aproximar o leitor/telespectador da realidade social e da atuação policial muitas vezes incompreendida por quem não a vivencia. Se apoderando do conteúdo dos livros e dos filmes aqui citados, bem como, observando a aplicabilidade dessa ficção no contexto social brasileiro tiramos a conclusão que o Brasil tem as melhores polícias militares do mundo. Mantendo a “democracia” e a ordem pública em um contexto de guerrilha urbana, um índice alto de morte de policiais e instituições democráticas corrompidas, a todo tempo em todos os municípios defendendo a população como pode.

Em uma próxima oportunidade irei comentar o conteúdo dos livros, só acrescentando, devemos valorizar o que temos, ainda ontem 09.02.2017, conversando com o palestrante de um evento internacional no Instituto Superior de Ciências Policiais, o Inspetor da Polícia Nacional do Japão Masahiro Kamei ele me disse ter assistido os dois filmes Tropa de Elite e é latente que ele também gostou muito.

Leandro Doroteu.

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