Tragédia policial, a perda do Cabo Catarino

Na noite do dia 05 de junho de 2013 Cabo Osmar Catarino Júniorda Polícia Militar do Distrito Federal, do Batalhão de Rotam, à paisana, foi atingido por um colega da corporação, vindo a falecer. Ao que tudo indica o Cabo Catarino teria tentado conter um assalto a um ônibus na avenida Hélio Prates, em Taguatinga, cidade satélite de Brasília. No momento em que executava a ação uma guarnição da Rotam, que patrulhava as imediações, foi acionada por populares para conter um assalto no mesmo coletivo.

No local a um dos membros da guarnição acabou atingindo o Cabo Catarino, que se encontrava a paisana e com arma em punho, tentava fazer com que o marginal deixasse o ônibus. A situação provável é que o policial tenha tomado Catarino como o marginal que assaltava o coletivo, vindo a atingi-lo. As informações desta ocorrência foram colhidas através de entrevista com policiais que estiveram no local da ocorrência, no dia dos fatos, e ainda carecem de apurações mais substanciais.

Com a morte de mais um policial militar, de forma trágica, uma chuva de comentários de “especialistas em segurança” irá fatalmente cair sobre nossas orelhas. Eles dirão do despreparo dos policiais militares, da falta de treinamento ou nos brindarão com o velho discurso da policia autoritária, herdeira da ditadura. A verdade é que, provavelmente, nenhum destes especialistas jamais pisou no pátio de um quartel, quanto mais sentou em um banco de viatura, ou seja, não tem ideia da pressão envolvida em qualquer abordagem policial.

A verdade é que nossa atividade é extremamente complexa, uma atividade cheia de variáveis incontroláveis, e mesmo quando todas as medidas de segurança são adotadas o máximo que conseguimos é a redução dos riscos. Os procedimentos policiais padronizados, isoladamente, não são suficientes para anular os riscos evolvidos na atividade e mesmo o mais preparado dos policiais pode acabar envolvido em uma ocorrência com desfecho trágico. Apesar de não conhecer em detalhes os fatos acredito que seja isso o que tenha acontecido aqui em Brasília, no caso do Cabo Catarino, morto em uma ocorrência por um colega de farda.

A verdade é que o entendimento da atividade policial não é completamente entendida pela maioria dos comentaristas do assunto, mas como o tema é bom, vende muito jornal e aumenta a audiência, é fundamental manter a brasa acesa manter ativa a curiosidade do publico. Os “especialistas” emprestam uma ar de análise científica aos seus comentários. Contudo, esses comentários, quase sempre, não refletem a realidade sobre a técnica profissional quando não apelam para o senso comum. Ou não é senso comum dizer que quando alguém erra uma tarefa essa pessoa precisa treinar mais.

Precisamos fazer um mea culpa, pois a razão destes pseudos especialistas em segurança terem tal relevância na mídia é por que, ao contrário de nos, policiais, eles escrevem suas ideias e as compartilham no meio acadêmico e midiático. Assim, na ausência da palavra das autoridades a imprensa alimenta sua necessidade no que há disponível. É fundamental que exista uma produção e, principalmente, o compartilhamento de um conhecimento técnico científico por parte das diversas organizações policiais. As associações de oficiais e praças, espalhadas por todo o país, tem o dever de abandonar as mesquinharias políticas e a promoção pessoal de seus líderes para investir em publicações jornalísticas, técnicas e publicitárias de forma a legitimar os verdadeiros especialistas em assuntos policiais.

Na inexistência de veículos de comunicação abrangentes que produzam conteúdo sob a ótica daqueles que praticam as atividades policiamento diuturnamente somos massacrados, sem defesa, e sem que exista nenhuma outra voz audível que traga outra opinião. Somos um contingente gigantesco, cerca de 500.000 homens, mas infelizmente mudo. Sem voz. Talvez seja por isso que exista aquela velha máxima do jornalismo: Faltou notícia, pau na polícia!

No caso do CB PMDF Catarino tenho certeza que o principal elemento envolvido no caso será muito pouco explorado pelos veículos jornalísticos. Mais importante do qualquer discussão sobre técnica policial ou condições de trabalho, torna-se imperativo tratar da tragédia humana que uma fatalidade como essa eviscera. Se de um lado temos como resultado a perda de um policial militar, competente e qualificado, com a consequente desestruturação da família órfã. Na outra ponta da ocorrência temos um profissional que, no cumprimento do dever, em um momento de extremo estresse, acabou com a vida de um colega.

Nunca vi, e acho que dificilmente veremos, qualquer especialista discorrendo sobre as implicações de fatos como esse no moral da tropa. Em como essa tragédia afetará o modo como os envolvidos, e o efetivo em geral, se portarão em ocorrências semelhantes. Ou em como podemos estudar o caso para evitar outra fatalidade do gênero. Em geral é aberta uma caça às bruxas, busca-se um culpado, antes mesmo que se investiguem os fatos. Parece que quando são policiais que estão envolvidos em uma tragédia a imprensa trata o caso como se os envolvidos não tivessem alma, como objetos para consumo público.

A equipe do Blitzdigital está consternada com a perda do Cabo Catarino. Mesmo em seu momento de folga o policial não mediu as consequências para sua segurança pessoal, correu de encontro a morte, tombou no cumprimento do dever. Não tinha a obrigação de atender aquela ocorrência sozinho, mas sabia que poderia salvar uma vida, tirar um marginal de circulação. Cumpriu seu dever. Aqueles que não sabem do que é feito um herói basta olhar os últimos instantes da vida do Cabo Catarino. Aqueles que, como eu, fizeram o juramento sabem:

Mesmo com o sacrifício da própria vida!

Luiz Fernando Ramos Aguiar

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