Uso da força letal como atingir o “T.O.N.”?

Segundo as Nações Unidas, O Brasil teve mais de 50.000 homicídios no ano de 2012. O mundo inteiro teve 437.000. Ainda segundo o mesmo órgão estamos ente as 15 nações que mais matam no mundo.

As famílias brasileiras são as maiores vítimas de um reconhecido e mensurado cotidiano de violência e letalidade. Cabe, ao profissional de segurança, como um dos braços de uma complexa teia de soluções, estar preparado para protegê-las e a fazê-lo de forma pontual.

O disparo de arma de fogo contra um agressor social é o último recurso a ser utilizado pelo Policial com a finalidade de fazer cessar uma ação delituosa.

Contudo, para efeito de entendimento real do nível de risco que envolve um confronto com força letal, esta ação deve diferenciar-se do aspecto teórico (e não aplicável) de tiro para atingir alvos estáticos, não humanos e sem possibilidade de reação. O que quero deixar claro é que a prática do aprendizado em ambiente controlado (treinamentos força-contra-força, estande de tiros e simuladores) não deve ser confundida com situações verdadeiras de neutralização de criminosos. É importante saber justificar o motivo de incapacitar criminosos de forma correta, sem permitir, no entanto, que policiais sejam confundidos com matadores durante a legalidade e legitimidade de sua ação, em favor do cidadão ou de si mesmo.

A compreensão que se deve ter é que uma ação letal, agressiva, ilegítima e delituosa, quando perpetrada voluntariamente contra um representante policial do Estado ou contra um cidadão, deve ser repelida na mesma medida. Adicionalmente, que se torne pétrea a concepção de que impactos em áreas periféricas (braços, pernas, mãos), além de ensejarem uma habilidade quase circense, carecem de um treinamento raramente dado a membros de forças policiais públicas no Brasil. Policiais de grupos ordinários ou especiais também não possuem equipamentos para tal.

Como se deve, então fazer frente a uma verdade tão devastadora? O que um policial deve buscar quando estiver frente a frente com um bandido armado? Um tiro é suficiente para parar uma agressão?

ASPECTOS TÉCNICOS – COMO ATINGIR O “T.O.N.”

Com as munições hoje utilizadas por profissionais de segurança pública, é raro que apenas um disparo neutralize um agressor. Não por que sejam ruins, mas por questões diversas que naturalmente impedem que aquele único disparo cumpra diversos objetivos. Hoje é possível ter acesso a muitos casos que comprovam tal afirmação.

Para que haja efetividade no ato produzido por policiais, este profissional de segurança pública deve comprometer, severa e obrigatoriamente, 03 cenários distintos:

1. Cenário Psicológico: impactar pontos que reduzam por completo a voluntária agressividade do criminoso. A preocupação de quem sofreu o impacto deve ser redirecionada, saindo do seu interesse em machucar o policial para a vontade de preservar a própria vida. Impactos nas regiões toráxica, abdominal e pélvica funcionam eficazmente;

2. Cenário motor (coordenação/habilidade fina e grossa): provocar redução ou incapacitação de perfeito cumprimento da mecânica corporal. Quanto menor for a qualidade de movimentos simples (empunhar uma arma – processo de preensão manual) e complexos (empunhar a arma e promover simultaneamente liberação de tecla de travamento ou botão de liberar carregador), maior a chance de sucesso na proteção dos cidadãos e aplicação da lei;

3. Cenário fisiológico e sensorial: provocar imediata perda de capacidade respiratória e de raciocínio para tomada de decisões. O choque hipovolêmico aliado à incapacitarão respiratória são bodyas medidas mais apropriadas para cumprir tal tarefa. Busca-se, neste instante, prejudicar a capacidade de correta movimentação do diafragma e dos pulmões, e de fluxo sangüíneo de quem deseja macular a integridade física de terceiros criminosamente. Reduzir, portanto, a oxigenação corporal e cerebral de forma drástica, cumpre esta tarefa.

Os itens acima completam o que classifico de T.O.N. – Triângulo Operacional da Neutralização. Obviamente mais elementos vão dar os corretos ângulos para que esse triângulo seja equilibrado e possivelmente equilátero. Atingir a medida correta nos cenários acima vai determinar a congruência dessa geometria operacional.

RESUMINDO…

Existe uma drástica diferença entre atirar e neutralizar uma ameaça. Atiradores atiram; profissionais de segurança neutralizam ameaças.

Preservo minha opinião de que o mais importante deve ser o homem ou mulher que coloca sua vida em risco ao aceitar servir e proteger. As frases piegas do tipo “aceitou ser policial porque quis” ou “fez concurso, agora agüenta…” não cabem mais em um país onde, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), possui 10% dos assassinatos cometidos em todo o mundo.

Este artigo não detalha aspectos operacionais de como chegar ao objetivo de atingir o T.O.N. – Triângulo Operacional da Neutralização. E não se busca aqui fazer apologia a agressão e nem fomentar qualquer ilegalidade. Que isso fique bem claro.

A realidade é muito sombria, mas precisa ser parcialmente corrigida com policiais que tenham, ao menos, garantia em seu direito de defender-se e defender a quem juraram proteger.

Chegaremos lá! Eu creio!

SOBREVIVAM!

Leonardo Sant’Anna.

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