Santidade

25 de novembro de 2012

1 Pedro 1:13-16

13 Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; 14 Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; 15 Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; 16 Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.

Somos ensinados desde os primeiros passos na vida cristã a estarmos empenhados, dedicados e comprometidos a buscar a santidade como valor basilar para sustentação de uma vida redimida. Sermões, vigílias e campanhas são instituídos estudamos os exemplos dos mártires, e somos estimulados a buscar padrões de comportamento e espiritualidade diferenciados, que nos identifiquem como seguidores de Cristo. Ainda assim, na maioria das vezes, temos estrema dificuldade de perseguir este alvo, a santidade.

Podemos identificar muitas barreiras na busca de uma vida em santidade e, talvez a maior, seja entender o que significa ser santo. Vivemos em um país de herança Católica e, na cultura popular, ser santo significa estar equiparado aos ícones da Igreja Romana. Por isso, em nosso meio utilizamos expressões como:
Esse cara só quer ser o Santinho; Ninguém aqui é Santo; Fulana é santa do pau oco;
A santidade é tratada, ou entendida, como um padrão inatingível, um estilo de vida para poucas pessoas, para cristãos especiais.

Outra forma de encaramos o tema é espiritualizando a santidade. É a o enquadramento preferido das igrejas evangélicas. Agora a santidade é tratada como um estado de espírito superior. O “santo” evangélico, apesar de viver entre nós, tem um estilo de vida quase monástico. Ele mantém longos períodos de oração todos os dias, lê vinte capítulos da bíblia diariamente, jejua cinco vezes por semana e nunca falta a nenhum culto, nos o chamamos de homem de Deus. Muitas vezes tornam-se referência para suas comunidades, as pessoas passam a busca-los, deslocando sua confiança em Deus para pessoas, mais ou menos como os católicos fazem com seus ícones.

Nosso primeiro desafio é entender qual ó o sentido bíblico de santidade, entender o que a bíblia quer dizer quando qualifica um objeto ou pessoa como santo.

Quando a bíblia trata de santidade a idéia é separação. Ou seja, santificar significa separar. Quando alguma coisa de uso comum é separado e utilizado exclusivamente para a prática de atividades da vida religiosa, da liturgia de culto:

Sábado – Êxodo 16:23 E ele disse-lhes: Isto é o que o SENHOR tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, guardai para vós até amanhã.

Israel, povo santo de Deus – Êxodo 19:6-7 E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.

Arão trazia em sua mitra (espécie de diadema ou chapéu sacerdotal) a inscrição: Santidade ao Senhor. O objetivo era mostrar que Arão estava exclusivamente consagrado, separado, para o serviço de Deus.

Tudo bem, agora já entendemos o que a bíblia esta dizendo quando utiliza a palavra santo. Mas como aplicar estes princípios em nossas vidas? E para nos, cristãos, o que significa santidade?

Precisamos entender que a santidade não é um patamar. Não é um local onde conseguiremos chegar e então descansaremos. Pelo menos não enquanto estivermos neste mundo. Na verdade, desde o dia de sua conversão, todo cristão está, ou pelo menos deveria, em processo de santificação. Onde o alvo é Cristo. O parâmetro de santidade para cada um de nos é o Senhor, por isso somos chamados de discípulos. Ou seja, seguimos os passos de nosso Mestre.

Segundo L. Berkhof, Teologia Sistemática, a santificação é:

“a graciosa e contínua operação do Espírito Santo pela qual Ele liberta o pecador justificado da corrupção do pecado, renova toda a sua natureza à imagem de Deus, e o capacita a praticar boas obras.”

Neste sentido a santificação é o ato sobrenatural que se inicia com a conversão e progride com o abandono do pecado e com a aproximação do servo ao Senhor. A santificação se inicia com a conversão e continua por toda a vida do crente, qualquer ensino que dispense a continuidade deste processo é anti bíblico. A partir do momento onde nosso ponto de comparação é o Senhor Jesus compreendemos que, enquanto criaturas imperfeitas, perseguiremos a santidade por toda existência terrena.

Como parte do processo é fundamental que conheçamos nosso alvo. Se nos espelhamos nos Senhor é preciso conhece-lo. E como podemos fazer isto?

Para nos tornarmos íntimos de alguém é preciso conviver com esta pessoa, com Jesus não é diferente. Conhecer a Deus não é algo que possa ser feito como tarefa intelectual. É necessário um envolvimento de fé, é preciso manter um relacionamento pessoal com o Senhor. Por esta via alcançamos uma relação de santificação através da obediência. Quanto maior for a nossa consciência da santidade de Deus, tanto maior deverá ser nossa submissão.

O que acontece é que o reconhecimento da condição de pecador pode nos levar a uma postura de profunda impotência e derrota, de que não podemos vencer as tentações que nos são apresentadas. Até mesmo Paulo chega a declarar: “Desventurado homem que sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24).

“Quanto mais perto estivermos do Santo, mais certeza da nossa impureza teremos. Antes, talvez não julgássemos pecado determinadas práticas triviais de nossa vida; agora, porém, já não nos sentimos bem neste procedimento, temos uma consciência mais apurada da santidade de Deus e do que Ele requer de nós; assim, crescer em santidade significa aprimorar a consciência de nossas falhas. Deste modo, Paulo, nos seus últimos anos de vida, escreve: “Fiel é a Palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.15).”
(COSTA, Hermisten Maia Pereira da (Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Buscar a santidade tem sido relegado a um segundo plano na teologia evangélica. Quando observa-se os grandes pregadores no Brasil é mais fácil vê-los incentivando seus fiéis a buscar bens materiais do que na busca de algum aspecto de uma vida santa. Estamos dominados por uma teologia rasa, que mede a santidade de homem pela quantidade de ofertas que ele dá e pelos bens materiais que ele conseguiu.

Acredito em uma santidade mais palpável e substancial. Que envolve não apenas os aspectos mais dramáticos da vida cristã, como martirização. Ou mais ascéticos como os longos períodos de oração e jejum. Mas que se manifesta na vida de cada cristão através de suas atitudes e de seu caráter transformado.

Quando era mais novo sempre imaginávamos como seria o Brasil se uma parcela maior da população viesse a se converter. O problema é que, na verdade, uma grande parcela da população tornou-se evangélica. Adotar a religião que, atualmente denominamos como evangélica é uma experiência muito diferente de uma genuína conversão ao cristianismo. Enquanto o primeiro caso requer apenas a frequência em alguma instituição religiosa o segundo exige uma completa mudança de mentalidade, comportamento e caráter.

Talvez seja este o motivo de tão pouco ter mudado com a presença de tantos “crentes”.

Na minha inocência adolescente acreditava que se existissem muitos evangélicos teríamos muitas pessoas comprometidas com o reino de Deus em posições estratégicas, artistas, políticos, funcionários públicos. Contudo, a vinculação religiosa vazia atira em nossas caras, e para escândalo do evangelho, cenas abomináveis protagonizadas por grandes expoentes evangélicos. Podemos citar a oração da propina, como um retrato do comprometimento de grande parte de nossos destaques do mundo evangélico.

A pessoa convertida precisa entender que para o senhor Jesus não existem divíduos, pessoas que apresentam comportamentos divergentes de acordo com o comportamento coletivo do grupo que está frequentando. Para o Senhor somos indivíduos, Ele espera nosso caráter seja sempre o mesmo, que sejamos fiéis ao sacrifício da cruz, mesmo significando prejuízo pessoal. Tentar justificar um comportamento inadequado em razão das circunstâncias em que foi praticado nos coloca na mesma situação de Adão:

Gênesis 3:12 – Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.

A santidade cristã genuína deve produzir frutos:

Mateus 7:14-23 – 14 E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. 15 Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. 16 Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? 17 Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. 18 Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. 19 Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. 20 Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? 23 E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.

Precisamos aprender a andar pela porta estreita, da santidade cotidiana, que se manifesta também nas pequenas ações. Quando estamos trabalhando precisamos fazer o nosso melhor, “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens”, Colossenses 3:23. Nos negócios temos que ser honestos, não sonegar impostos, pagar o salário justo aos funcionários. Na vida matrimonial corresponder a expectativa do evangelho:

Efésios 5:22 – Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
Efésios 5:25 – Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,

Na realidade separações de “áreas da vida” é apenas um artifício didático. Possuímos apenas uma vida, um caráter, manifestações de contraditórias são apenas um sintoma da nossa condição de pecadores. E é por este motivo que precisamos desesperadamente da obra redentora de Cristo e de uma vida em santidade.

A busca pela santidade deve resultar em muito mais do que a simples expressão de religiosidade. A indivíduo separado deve produzir fruto de acordo com o trabalho para o qual ele foi preparado. No caso da santidade em Cristo devemos expressar em nossas vidas o fruto de sua obra redentora, realizada em nos por seu Espírito Santo.

Gálatas 5:22 – Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.

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