Sermão do Cardeal Raymond Leo Burke em Brasília DF

Apresentamos a transcrição do Sermão do Cardeal Raymond Burke pronunciado na Capela Nossa Senhora das Dores, IBP, na Festa de São Gregório Barbarigo, 17/06/2017.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Sou profundamente grato pela oportunidade de oferecer o Santo Sacrifício da Missa hoje, nesta bela Igreja de Nossa Senhora das Dores. Agradeço a sua Eminencia Reverendíssima, o Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Brasília, e a sua Excelência Reverendíssima, Dom Fernando Guimarães, Arcebispo Militar, pela calorosa acolhida e hospitalidade. Agradeço também a todos os que trabalharam tão bem e diligentemente para a minha primeira visita ao Brasil, em especial à Capital Federal de sua grande nação. Ofereço a Santa Missa nesta manhã pelas intenções da Arquidiocese de Brasília, da Arquidiocese Militar e de vossa nação.

Hoje, nós celebramos a memória de São Gregório Barbarigo, bispo e confessor do século XVII, na Itália. Ele foi um brilhante canonista que serviu a Santa Sé desde o tempo da sua ordenação sacerdotal. Mais tarde, serviu como bispo de Bérgamo e depois como bispo de Pádua. Durante o seu tempo de serviço como bispo de Bérgamo, foi criado cardeal da Santa Igreja Romana. Em cada serviço sacerdotal confiado aos seus cuidados, ele se mostrou ser o bom e fiel servo que fielmente usou os dons com os quais o Senhor o havia enriquecido para o bem de todo o rebanho. E, portanto, em sua morte, como a Igreja proclamou, ele ouviu essas palavras de Cristo, Sumo Sacerdote: “entra na Glória de teu Senhor”.

Ele escolheu São Carlos Borromeu como seu modelo no ofício episcopal, e foi tratado universalmente com estima e afeto como um digno e incansável pastor do rebanho de Nosso Senhor. Nas vidas dos santos, ele é lembrado com estas palavras: O zelo com o qual São Gregório conduziu seus deveres pastorais fez que ele fosse aclamado como um segundo Carlos Borromeu. Ele foi de fato exemplar em cada instante de sua vida, suas caridades foram enormes. Severo apenas consigo mesmo, ele era gentil para com todos, especialmente com aqueles que tinham problemas ou dificuldades. No que diz respeito ao ensino, ele fundou uma faculdade em um seminário para jovens padres que alcançou grande renome, ele deu, por sua conta, uma prensa manual para o seminário, além de uma bela livraria, particularmente ornada com os escritos dos Padres da Igreja e com as obras sobre as Sagradas Escrituras. São Gregório Barbarigo, em sua compaixão por cada membro do rebanho, sabia do grande dom com o qual havia sido ordenado e consagrado, o dom do qual eles tinham mais necessidade e pelo qual eles mais ansiavam: Jesus Cristo, o Filho de Deus Encarnado, reinando em glória na destra de Deus Pai, e ao mesmo tempo vivo para nós na Igreja através do derramamento do Espírito Santo, Deus, em nossos corações, desde seu glorioso Coração transpassado por nós.

Em ambas as dioceses nas quais ele serviu, fez as devidas visitas pastorais a cada paróquia, a fim de entender tão perfeitamente quanto possível as necessidades espirituais da porção do rebanho do Senhor confiada ao seu cuidado, e lhes prover tão plenamente quanto possível. Nele, nós vemos o cumprimento da imagem de nossos pais na fé do Antigo Testamento, louvados pelo livro do Eclesiástico: “Eis que um grande sacerdote foi julgado justo e perfeito, e no tempo da ira tornou-se o elo da reconciliação. Ninguém lhe foi igual em glória, guardou a lei do altíssimo e fez aliança com Ele”. Durante sua vida, São Gregório Barbarigo cooperou com a graça Divina pela qual ele foi conformado à pessoa de Cristo Sumo Sacerdote, conduzindo o ministério sacerdotal para a glória de Deus e a salvação das almas. Ele foi obediente a Nosso Senhor e aos sete dons do Espírito Santo dados a ele para a santificação de muitas almas. Quanto à relação de nosso Senhor com o  seu sacerdote, diz o texto inspirado do livro do Eclesiástico: “O Senhor fez uma aliança eterna com ele, deu-lhe um sumo sacerdócio, o revestiu de glória para executar o oficio do sacerdócio, e cantar os louvores do Senhor, e oferecer a Ele um incenso digno com odor de suavidade”. De fato, São Gregório Barbarigo, em virtude de sua consagração sacerdotal e episcopal e por sua cooperação com as muitas graças conferidas a ele, como sacerdote, pelo Senhor, tornou-se um modelo para bispos e padres, os principais colaboradores do bispo.

A festa de hoje nos lembra da necessidade de rezarmos por nossos bispos e por nossos padres, a fim de que eles tenham o cuidado de pastores com o rebanho de Nosso Senhor, e obediência a Ele em todas as coisas. Ainda que a vida de São Gregório Barbarigo nos mostre como a santidade do pastor inspira a santidade do rebanho, nós também sabemos que quando os bispos falham no seu dever de ensinar a fé com clareza e coragem,  no dever de administrar os sacramentos como  verdadeiros atos de Cristo em nosso meio e no dever de corrigir o rebanho de acordo com a lei moral, seguem-se a confusão e o erro que conduzem ao pecado grave.

Neste sábado, dia da semana em que honramos a Virgem Mãe de Deus de modo especial, recordemos a terceira parte da mensagem ou segredo de Nossa Senhora de Fátima. Deixando à parte a discussão se a terceira parte do segredo foi ou não revelada na íntegra, parece claro, pelos mais respeitados estudos das aparições de Nossa Senhora de Fátima, que esta parte do segredo está relacionada a forças diabólicas descarregadas sobre o mundo em nosso tempo e que entraram na própria vida da Igreja apartando as almas da verdadeira fé, e, portanto, do amor divino que emana do glorioso Coração trespassado de Jesus. Frei Miguel da Santíssima Trindade, em seu estudo monumental sobre as aparições de Nossa Senhora de Fátima, escreve o seguinte a respeito da terceira parte do segredo, também conhecida simplesmente como terceiro segredo: “Em suma, o triunfo do Coração Imaculado de Maria se refere muito mais ao terceiro segredo do que, propriamente, ao segundo, porque a restauração da paz será um dom celeste, mas não se trata propriamente falando do triunfo do Imaculado Coração de Maria. Sua vitória é de outra ordem, de ordem sobrenatural, sendo de ordem temporal, então, por consequência. Será, primeiro, a vitória da fé, a qual porá fim ao tempo da apostasia e às grandes faltas dos pastores da Igreja.” Tão horríveis quanto possam ser os castigos físicos associados à desobediente rebelião contra Deus, muito mais horríveis são os castigos espirituais, pois eles tem a ver com o fruto do pecado grave, a morte eterna. Como é claro, só a fé, que coloca o homem em relacionamento de união íntima com o Sagrado Coração de Jesus, pela mediação do Imaculado Coração de Maria, pode salvar os homens dos castigos espirituais que a rebelião contra Deus necessariamente traz sobre o seus propagadores e sobre o todo, seja da sociedade, seja da Igreja. O ensinamento da fé na sua integridade e com coragem é o coração do ofício dos pastores da Igreja, do Romano Pontífice, dos bispos em comunhão com a Sé de Pedro e de seus principais colaboradores, os padres. Por esta razão, o terceiro segredo é direcionado com particular intensidade àqueles que exercem o oficio pastoral na Igreja. Seu silêncio e o fracasso deles em ensinar a fé em fidelidade com o  ensino e a prática constantes da Igreja, através de uma abordagem superficial, confusa ou mesmo mundana, põem em perigo de morte, no mais profundo sentido espiritual, as próprias almas pelas quais eles foram consagrados para cuidar espiritualmente. Os frutos envenenados dos fracassos dos pastores da Igreja são vistos em uma forma de culto e de disciplina moral que não está de acordo com a lei divina.

Hoje, confiemos os nossos bispos e sacerdotes aos cuidados e intercessão da Mãe dos Sacerdotes e do seu amado filho São Gregório Barbarigo. Nós amamos com a mais ardente devoção a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Nosso Salvador, que, antes de morrer na Cruz, deu-nos a ela como seus filhos queridos. A cada sábado, recordamos o grande mistério do amor de Deus por nós, no qual a nossa Bem-Aventurada Mãe participa de uma maneira especial. Ela, primeiro, acolheu nosso Salvador, Deus Filho, em sua vinda  ao mundo, na sua concepção sob o seu Imaculado Coração. Seu Coração, sem pecados, era como o Coração Divino dEle. Daquele momento em diante, ela foi de fato a sua primeira e melhor discípula. A Bem-Aventurada Virgem Maria é o modelo de confiança no Espírito Santo que nosso Senhor nos ensina nos Evangelhos. As setes dolorosíssimas dores de Nossa Senhora transpassaram seu Coração, mas através de todo o seu sofrimento, mais especialmente através da cruel paixão e morte de seu altíssimo Filho, ela confiou que a palavra de Deus a ela dirigida era cumprida. Nossa Bem-Aventurada Mãe ensina-nos a ter uma fé cada vez mais profunda em Nosso Senhor Jesus Cristo, ardente no amor e firmemente arraigada na esperança e na confiança nas promessas de Deus. A Virgem Maria e seu materno amor conduz-nos sempre a Cristo, cabeça de seu corpo, a Igreja, única na qual se encontram nossa vida e salvação. Peçamos a ela, hoje, com o mais profundo respeito e amor, que conduza nossos bispos e sacerdotes a Cristo e que sigam o seu materno conselho: “Fazei o que Ele vos disser”.

Com nossa Bem-Aventurada Mãe, nós agora nos aproximamos do altar do sacrifício de Cristo, nos colocamos com ela diante de Nosso Senhor, implorando seu perdão no derramamento de sua graça em nossas almas. Ele não deixará de ouvir as orações de sua Mãe e nossas orações. Ele irá se rebaixar para nos elevar a Ele, a fim de partilhar conosco as infinitas riquezas de misericórdia e amor de que está repleto o seu Coração. Pela a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, digne-se Nosso Senhor receber a oferta de nós mesmos a Ele. Que Ele digne-se a ouvir as nossas orações por nossos bispos e sacerdotes, a fim de que eles, à imitação de São Gregório Barbarigo, e com o auxílio de suas orações, sejam encontrados justos, guardando a lei do altíssimo e, portanto, exercendo o oficio sacerdotal para a glória de Deus e a salvação de muitas e muitas almas.

Cardeal Raymond Leo Burke.

Fonte: Missa Tridentina em Brasília.

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