Ex-assessor da Presidência da República organizou protesto contra a Copa

Protesto teve queima de pneus em frente ao Estádio Mané Garrincha. Foto Luiz Fernando Ramos Aguiar.

Investigação da Polícia Civil aponta o ex-assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República Gabriel Santos Elias como um dos principais responsáveis pela manifestação que resultou no bloqueio e no incêndio de barreira de pneus em seis pistas do Eixo Monumental, em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Santos foi exonerado no último dia 17 e, desde então, teria começado a organizar o protesto a partir do grupo “Copa para Quem?”

Só não sabemos se ele tem alguma ligação com a queima de pneus, que é crime. Mas com certeza ele estava na organização do protesto — disse o diretor da Polícia Civil Jorge Luiz Xavier na noite desta sexta-feira.

A Secretaria de Relações Institucionais, por sua vez, informou que não tem qualquer participação no protesto ocorrido em Brasília. Segundo a secretaria, Gabriel Santos Elias fazia parte de uma equipe que atua nas comissões do Congresso fazendo relatórios sobre as sessões e não tinha acesso a ministra Ideli Salvatti. Ainda de acordo com o órgão, o servidor pediu demissão. 

À tarde, a Polícia Militar do Distrito Federal prendeu três integrantes do protesto realizado em frente ao Mané Garrincha, em Brasília. Neste sábado, o local será o palco da abertura da Copa das Confederações, com o jogo entre Brasil e Japão. Todos os ingressos para o jogo já foram vendidos. São esperadas mais de 50 mil pessoas no local.

Os presos foram levados para a 5ª Delegacia de Polícia de Brasília. Também foi apreendido o caminhão que levou os pneus para serem queimados com objetivo de interromper o trânsito.

Foi preso o motorista do ônibus usado para transportar os pneus, e outras duas pessoas que o teriam contratado. A polícia desconfia que o grupo tenha recebido dinheiro (R$ 30 por pessoa) para participar do protesto e tenta identificar quem financiou a manifestação. A suspeita é que tenha sido um político interessado em criar confusão.

— Está bastante claro que teve gente usada. Tem gente que criou o caos para tirar proveito político. Nosso objetivo agora é estabelecer toda a cadeia de comando — disse o diretor-geral da Polícia Civil do DF, Jorge Luiz Xavier.

O diretor informou que vários manifestantes participaram do protesto de boa fé, inclusive alguns líderes. Mas está convicto também de que outros só queriam fazer arruaça para desestabilizar a organização da Copa das Confederações.

Segundo a PM, cerca de 200 pessoas, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e do Comitê Popular da Copa do Distrito Federal, portavam faixas e bandeiras e incendiaram uma faixa de pneus, bloqueando o Eixo Monumental. Por volta das 11h15, os manifestantes deixaram o local em passeata, acompanhados por carros da polícia, em direção ao Palácio do Buriti, sede do governo. Os bombeiros apagaram o fogo e liberaram a via.

Por volta das 12h, um grupo de representantes dos manifestantes do MTST foi recebido por uma comissão do governo no Palácio do Buriti e os demais aguardam em frente ao palácio, sem ocupar a pista, pela decisão do encontro. Eles pediam que seja concedida uma bolsa de R$ 600 mensais para famílias em situação de vulnerabilidade social. Além disso, querem que o governo coloque uma ligação de energia no acampamento que eles mantêm em Planaltina, cidade-satélite do DF.

Ao final da reunião, os integrantes do MTST disseram que o governo se recusou a discutir as reivindicações e disse que só aceitaria tratar de assuntos relacionados à Copa. O grupo decidiu que vai permanecer em frente ao Buriti até o final da tarde e que se o governo não mudar de opinião, eles querem voltar a bloquear vias públicas. A comissão do governo recebeu em seguida integrantes do Comitê Popular da Copa, que também promoveu a manifestação hoje.

Em texto divulgado pelos manifestantes, eles afirmam que protestam contra os abusos da organização da Copa do Mundo e Copa das Confederações. Informam também que serão realizados, durante toda a semana, “atos unificados em 12 capitais do país” para perguntar “Copa Para Quem?”, e denunciar violações de direitos humanos na realização dos megaeventos esportivos.

Nosso movimento é contra a exploração empresarial do futebol. O governo deu um monte de terra para empresário. Agora, vamos nos reunir e avaliar o que faremos amanhã — disse um dos manifestantes que se identificou como “o motoboy Rogério”. Segundo ele, na hora do jogo, eles não sabem se vão protestar ou assistir à partida.

O secretário de segurança do Distrito Federal, Sandro Avelar, afirmou durante a manifestação que o Batalhão de Choque foi enviado ao local. Ele disse que o governo é democrático ao diálogo, mas que não pode haver “tolerância à baderna”. Segundo Avelar, foram identificadas as pessoas que levaram os pneus ao local e atearam fogo, e que há um grupo de pessoas que está tirando proveito de um “momento histórico”, que é a Copa das Confederações.

Movimento Sem-Teto

Segundo Rogério da Cunha, que se identifica como um dos líderes do Movimento Sem-Teto, o grupo decidiu fazer o protesto hoje, véspera da abertura da Copa das Confederações porque sabe que o evento chama atenção.

Qual a visibilidade que você vai ter se fizer protesto outro dia? — disse Rogério da Cunha.

A pauta de reivindicações dos manifestantes é variada e não engloba apenas assuntos relacionados à Copa das Confederações. Nenhuma delas está relacionada ao aumento do preço das passagens de ônibus no Rio e em São Paulo. Entre os pleitos está a garantia de manter rua de lazer fechada aos domingos e feriados; criação de ruas de lazer em outras áreas do DF, manutenção de calçadas no distrito e abertura de passagem subterrânea no Eixão para acesso ao Setor Hospitalar Norte. Segundo o manifesto, eles também pedem “plano de construção de, ao menos, 150 mil moradias populares nos próximos 2 anos (valor estimado de R$1,5 bilhões); Compromisso da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) em não vender mais terrenos públicos até o atendimento da demanda por moradias no DF; Criação urgente de plano integral, com dotação orçamentária, de proteção a crianças e adolescentes e de combate à exploração sexual”, entre outros.

O governo alega que falta dinheiro para construir moradia para os sem teto. Mas vimos que há dinheiro. Falta vontade política e combate à corrupção. Por exemplo, gastou-se R$ 1,5 bilhão para construir um estádio de modo fraudulento — afirmou Edenílson Paraná, um dos porta vozes do movimento.

Somos contra a Lei Geral da Copa, que contém uma série de abusos e passa por cima de uma série de direitos dos brasileiros — afirmou Edson Silva, que se identificou como dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.

Entre as faixas usadas pelo grupo, havia uma com os dizeres “Solidariedade aos manifestantes de São Paulo”, fazendo referência ao movimento paulista que luta contra o aumento das passagens na capital do estado.

O espaço em frente ao estádio Mané Garrincha é ponto tradicional de protestos em Brasília. Nos últimos dias, um grupo de técnicos de enfermagem em greve vêm fazendo manifestações no local, inclusive com a interrupção do trânsito. Nesta sexta-feira, os técnicos voltaram ao local e estão em uma praça no meio da pista, pedindo reajuste salarial.

Fonte: O Globo – 15/06/2013

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