A emocionante história da descoberta dos ossos de São Pedro em 1939 parte 2.

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Mas as surpresas apenas começavam: o exame da parede azul revelou que ela estava coberta de inscrições cristãs de tipo grafite, feitas com estiletes, na maior desordem.

Concluiu-se que eram pedidos de orações dos primeiros cristãos, que punham seus nomes – Ursianus, Bonifatius, Paulina etc. O símbolo codificado de Cristo (as letras gregas chi-rho superpostas, como se vê no desenho abaixo) aparecia várias vezes.

Simbolo codificado de Cristo.

Mas o nome que se procurava não foi encontrado: Petrus. Nenhuma invocação a ele naquela floresta de nomes. Permanecia o indecifrável silêncio sobre São Pedro.

Num ponto dessa parede foi encontrado um pequeno buraco, formado pela queda da argamassa. Inserindo luz pelo buraco, verificou-se que a parte de baixo da parede azul era oca e revestida internamente de excelentes mármores.

No chão dessa cavidade havia muito pó. Parecia ter sido algum túmulo engenhosamente escondido ali. Seria impossível investigar melhor aquilo sem abrir mais o pequeno buraco, o que destruiria as inscrições.

Com isso, as atenções se voltaram para o túmulo de São Pedro propriamente dito. Decidiu-se escavar mais, bem junto à parede vermelha, para se chegar à câmara mortuária.

Logo foram encontradas algumas sepulturas cristãs simples, quase amontoadas junto à parede. Eram dos primeiros séculos. Tratava-se de um tocante indício: todos os corpos estavam voltados para a parede. Eram cristãos enterrados bem junto a São Pedro.

Ao retirar uma pedra, depararam com uma cavidade vazia: afinal, o túmulo! Emocionados, os arqueólogos avisaram [o Venerável] Pio XII, que em dez minutos chegou.

Era uma câmara pequena, mas alta, simples, com paredes de tijolos nus e piso de terra. E estava vazia! Havia sinais evidentes de violência: um nicho e uma trave golpeados violentamente, uma coluneta partida.

No chão encontraram-se muitas moedas romanas e medievais, confirmando uma crônica que se refere a uma pequena abertura no túmulo, onde se podia introduzir a mão. As moedas provinham de todo o Império, atestando a devoção generalizada ao Apóstolo.

O exame minucioso do local revelou na base do nicho uma pequena abertura em forma de Λ, entupida de terra.

Revolvendo o interior dessa abertura, encontrou-se enorme quantidade de fragmentos de ossos antiquíssimos. Eram mais de 250. Seriam os do Apóstolo?

Em caso afirmativo, por que estavam eles em posição tão secundária e escondidos?

O médico de Pio XII, dr. Galeazi-Lizi, examinou-os superficialmente e concluiu que eram de um homem idoso e de físico robusto, o que correspondia à descrição de São Pedro. Daí ter-se propagado, na ocasião, a versão de que os ossos eram dele.

Mas essa localização estranha exigia maiores pesquisas. As escavações continuaram, revelando que a parede vermelha era a peça chave de um complexo de construções.

Tratava-se de uma edícula comemorativa, no centro da qual havia duas colunetas sustentando uma laje de travertino, parecendo um altar. Em frente situava-se um pátio fechado por altos muros.

Restos do primeiro tmulo construido para Sao Pedro

Era obviamente uma construção ideal para celebrações clandestinas dos primeiros cristãos.

Como o cemitério era pagão e aberto, ao contrário das catacumbas, as precauções tinham que ser maiores.

Daí a ausência do nome de Pedro e de símbolos cristãos nessa área (é aí que está a parede azul com os grafitos). É esta também a razão do silêncio sobre a localização do túmulo, na literatura cristã da época.

Monogramas com o nome de Pedro do início da cristandade

Πέτροσ ένι

Após o término das escavações, em 1950, o arqueólogo Ferrua examinava o interior da parte oca da parede azul, e notou no chão, perto da junção desta com a parede vermelha, um pequeno pedaço de argamassa que havia caído.

Conseguiu pegá-lo dentro do buraco, e viu que havia algo gravado ali à estilete. Levado a especialistas, descobriu-se uma inscrição em grego que dizia: “Πέτρ… ἔνι”.

Faltavam letras no primeiro nome, obviamente Πέτροσ (“Pedro”). Ἕνι é a contração do verbo grego antigo ἔνεοτι, que significa “estar dentro”. A inscrição significava “Pedro está aqui”.

A essa altura, um dos maiores especialistas em inscrições antigas, a dra. Margherita Guarducci, passou a estudar os grafitos da parede azul.

Como se sabe, os cristãos tinham toda uma linguagem codificada de símbolos e letras – o peixe, as letras gregas chi-rho (ΧΡ), o Μ para Maria, o Ν para vitória etc.

Após algum estudo, a dra. Guarducci descobriu o código usado para São Pedro: um “Ρ” com um discreto “Ε” em sua perna, ou o mesmo símbolo inserido no chi-rho de Jesus, tocante símbolo para o Vigário de Cristo (cfr. desenho).

Simbolo codificado de Cristo.

Além disso, a descoberta provava contra os anticatólicos que a doutrina do papado já era clara naqueles primórdios da Igreja.

Muitas inscrições com esse símbolo podiam ser observadas na parede dos grafites. Estudos posteriores revelaram que São Pedro era invocado com grande frequência, mediante tal símbolo, pelos primeiros cristãos, pois ele era muito usado nas catacumbas em cartas, em mosaicos, em pinturas etc. Estava explicado o “silêncio” sobre São Pedro.

Símbolo codificado de Cristo no grafiti

Essa descoberta fez com que a dra. Guarducci ficasse intrigada com a inexplicável parede oca com os grafites e o “Πέτροσ ἔνι”.

Chamou sua atenção um fato que passou despercebido aos demais arqueólogos. Mons. Kaas, administrador da Basílica, costumava ir à noite verificar os andamentos dos trabalhos. Acompanhava-o G. Segoni, o chefe dos “sampietrini” (operários do Vaticano, cujos ofícios passam de pai para filho).

Mons. Kaas, nessas inspeções, preocupava-se em guardar de modo digno as numerosas ossadas que iam sendo encontradas. Colocava-as numa caixa ajudado por Segoni, identificando com uma etiqueta o local de onde foram tiradas.

Uma noite, pouco depois de descoberta a parede oca dos grafitos, Mons. Kaas pediu que Segoni verificasse bem se não se encontrariam ossos dentro da cavidade.

Por baixo da poeira, Segoni encontrou numerosos ossos, restos de tecido e uns fios metálicos.Tudo foi guardado numa urna e identificado. Outro “sampietrini presenciou a remoção, mas os demais arqueólogos nem souberam disso na época.

Em 1950 foi divulgada a grande notícia: o túmulo de São Pedro fora descoberto. O próprio Papa Pio XII fez o anúncio, associando-o ao Ano Santo.

Mas explicava-se que, segundo o modo como os ossos foram encontrados, não se podia concluir se eles seriam ou não do Apóstolo.

Ao par do grande júbilo, houve muitos protestos dos meios científicos, que solicitavam, um exame rigoroso de todos os ossos, descobertos na pequena abertura em forma de Λ na parede do túmulo de São Pedro, por algum grande especialista.

Afinal em 1956, Pio XII concordou, e foi nomeado o dr. Venerando Correnti, um dos maiores antropólogos da Europa.

O trabalho foi lento e difícil, pois faltavam vários ossos importantes. A conclusão, em 1960, constituiu uma sensacional decepção: tratava-se de ossos de três pessoas – dois homens de meia idade e uma mulher idosa.

E junto, encontravam-se vários ossos de animais. Todos antiquíssimos, talvez do século I.

Para os arqueólogos, a situação se explicava: como as leis romanas proibiam a remoção de ossos de uma sepultura, esses haviam sido encontrados e amontoados no pequeno buraco ao pé do nicho.

Raio de luz natural bate na urna com os ossos de Sao Pedro Vaticano

Apenas para completar os estudos, o dr. Correnti verificou rapidamente os demais ossos das tumbas próximas.

Ao analisar os ossos encontrados na cavidade revestida de mármore, da parede dos grafitos, chamou-lhe a atenção o estado de conservação, estando a maioria bem branca.

Dada sua grande antiguidade decidiu estudá-los melhor. Eram 135 ossos sendo que poucos estavam inteiros. Constatou que provinham de um só indivíduo, do sexo masculino, de físico robusto e falecido entre os 60 e 70 anos.

Antes de estar na cavidade marmórea eles estiveram enterrados na terra nua, mas depois, durante muito tempo, permaneceram bem protegidos e envoltos por tecidos purpúreos, que mancharam um pouco alguns.

Ao tomar conhecimento dessas conclusões, a dra. Guarducci ficou sobressaltada. Ela revelou que a expressão grega “Πέτροσ ἔνι” ecoava continuamente em sua cabeça.

Seriam essas as relíquias de São Pedro?

Não é a única explicação possível para o “Pedro está aqui”? E para a misteriosa cavidade?

Todos os dados confluíam para essa teoria. A razão do esconderijo seria evitar profanações.

O dr. Correnti logo apoiou a tese da dra. Guarducci, e ambos obtiveram de Paulo VI, que havia sido eleito recentemente, permissão para reabrir as pesquisas.

O teste crucial foi o dos fragmentos de terra existentes nos ossos. Sua composição química revelaria se era a mesma terra que se encontra no piso do túmulo vazio de São Pedro.

Uma circunstância tornava esse teste particularmente importante: a terra do túmulo é de tipo calcária argilosa, bem diferente da que se observa em toda a região vizinha, inclusive dos túmulos próximos.

Nome de Sao Pedro inscrito numa pedra

Conclusão do exame: a terra é a mesma do túmulo de São Pedro.

O tecido purpúreo foi examinado. Seria púrpura autêntica? E seria romana?

Só os membros da alta nobreza romana podiam usar a púrpura verdadeira, cuja fabricação era um rigoroso segredo de Estado. Os demais ricos usavam, uma imitação.

Hoje a composição química de ambos os tipos é conhecida. Outra particularidade: a púrpura com fios de ouro era de uso exclusivo da família imperial em raras ocasiões.

Resultado do exame: era púrpura romana verdadeira, decorada com finíssimas placas de ouro. E os fios que estavam junto aos ossos eram fios de ouro.

Este foi um argumento essencial a favor da teoria da dra. Guarducci, pois como a cavidade marmórea foi considerada como já existente na época constantiniana, ficava claro que o Imperador autorizara envolver as preciosas relíquias na púrpura imperial.

Antes de publicar novos estudos, cinco renomados especialistas independentes verificaram tudo o que havia sido feito e deram-se por satisfeitos.

Mas, quando foi dada a público a nova teoria, levantou-se um grande vozerio em certos meios científicos.

Este era explicável, pois, para preservar o bom nome dos arqueólogos e de Mons. Kaas, a dra. Guarducci procurou cobrir com um manto o incrível episódio do eclesiástico ao recolher os ossos sem avisar aos membros da equipe.

Também impugnou-se o exame do tecido, exigindo-se algo mais rigoroso. E, sobretudo, argumentava-se que não havia nenhuma prova que demonstrasse não ter sido violado o repositório marmóreo.

Vista da Cripta de São Pedro com os seus ossos numa urna

Assim nova série de pesquisas foi iniciada. O exame mais rigoroso dos tecidos feito na Universidade de Roma, confirmou os resultados anteriores.

E Paulo VI autorizou a se abrir o repositório, para confirmar se ele datava da época de Constantino e se não fora violado. A dúvida surgiu porque fora encontrada uma moeda do início da Idade Média no local.

Uma equipe desmontou a parte de baixo da parede azul dos grafitos, a fim de penetrar no repositório sem tocar nas paredes e no teto.

Tudo foi examinado minuciosamente, e a conclusão foi que ele fora fechado no século IV, e jamais fora aberto.

Várias moedas foram ali encontradas, tendo penetrado através de fissuras da parede causadas por acomodação do terreno.

Para silenciar definitivamente as críticas novo trabalho foi publicado, relatando as circunstâncias exatas do episódio de Mons. Kaas, acompanhado de documento juramentado do “sampietrini” Segoni.

Vista de conjunto do Altar da Confissão
E a dra. Guarducci rebateu convincentemente a última crítica que ainda pairava: como explicar a remoção dos ossos da sepultura, mesmo por motivos de segurança, uma vez que os costumes romanos não o permitiam?

Na realidade os ossos não foram removidos da sepultura, pois a parede azul é parte integrante dela.

Após algum tempo, certificando-se de que a crítica nada mais de ponderável podia apresentar, e vendo que os novos exames reforçaram singularmente a teoria da dra. Guarducci, Paulo VI, a 26 de junho de 1968, anunciou solenemente ao mundo que, após longos e extensos estudos “as relíquias de São Pedro foram identificadas de um modo que julgamos convincente”.

E, por isso, ele fazia “este feliz anúncio” aos fiéis de todo o mundo.

No dia seguinte, em cerimônia presidida por Paulo VI, as relíquias de São Pedro, guardadas em caixas com tampos transparentes, foram recolocadas no repositório onde haviam sido encontradas.

Confirmando a tradição católica, sobre as relíquias de São Pedro fora edificada a grande Basílica de Constantino, considerada o centro da Cristandade.

E sobre tal Basílica, mil anos depois, ergueu-se a atual Basílica de São Pedro.

Cumpriu-se assim, até de modo físico, a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.

(autor: Juan Miguel Montes, “Catolicismo”)

Fonte: Ciência confirma Igreja.

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