A importância da família

Nós tratamos, caros católicos, no último domingo, o domingo do Bom Pastor, do sacerdócio católico e de sua necessidade para restaurar tudo em Cristo. Todavia, como dissemos na Quinta-Feira Santa – o dia da instituição do sacerdócio – o sacerdócio sozinho não é suficiente para tirar a Igreja e a sociedade da crise por que passam. Além do sacerdócio, são necessárias as famílias católicas. E mais do que o sacerdócio católico e as famílias católicas, é preciso que os dois trabalhem em união pelo reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas almas e na sociedade. Hoje e em vários dos domingos que nos restam até a realização do Sínodo dos Bispos, trataremos do matrimônio, da família. É preciso conhecer bem o que é o matrimônio, sua história, sua natureza, seus fins, seus bens, os deveres de cada membro da família, a sua grandeza. Apenas assim as famílias poderão, em primeiro lugar, viver bem o matrimônio. Apenas assim, conhecendo a bondade e beleza do matrimônio, é que encontrarão as disposições para lutar por ele com todas as as forças.

A família, temos repetido e se repete muito, é a base da sociedade. Quando ela se conserva estável e forte, fortes e estáveis se conservam os Estados. A família é também a principal escola de educação, e dela depende em grande parte a felicidade e o bem estar dos homens neste mundo. Sendo assim, não devemos nos espantar pelo fato de que todos os que maquinam contra a sociedade se esforçam por destruir a estabilidade e a essência da família. Se, além disso, acrescentarmos as paixões desordenadas, podemos compreender porque a família é tão combatida, porque o matrimônio, que forma a família é tão combatido. O plano de combate é claro. Primeiro, nega-se ao matrimônio o caráter sagrado e de sacramento, reduzindo-o a um contrato meramente civil. Em seguida, afirma-se a possibilidade da dissolução desse casamento meramente civil pelo divórcio. A família é também minada pela supressão dos filhos ou pela diminuição do número dos filhos, para que os esposos possam gozar a vida mais à vontade. Passa-se, finalmente, ao “amor livre”, entre aspas, pois amor livre, amor não é. E a partir daí, tudo é possível. É claro que estamos, hoje, nessa última etapa, com os chamados novos modelos de família, que de família não têm nada e de modelos ainda menos. Não são modelos de família, mas o contrário dela. Os ataques à família são inumeráveis, duríssimos, maliciosos. Esses ataques nos vêm por escrito em muitos livros, em muitos periódicos, revistas e jornais. Esses ataques nos vêm por imagens em filmes, séries de TV, novelas – novelas que, como são, a nenhum católico é lícito assistir, diga-se de passagem – e muitos outros programas de TV. Esses ataques nos vêm na vida social quotidiana, pelos maus exemplos, pelas piadas, etc. E nesse combate contra a família, sucumbiram indivíduos, sucumbiram os Estados, sucumbiram vários grupos que se denominam cristãos. Continua de pé apenas a Igreja Católica, pois é a Igreja de Cristo, pois é divina. Ainda que os homens da Igreja possam negar a doutrina de Cristo e ensinar algo contrário à doutrina de Cristo, lá continuará o seu ensinamento imutável sobre o matrimônio, sobre a família. Ensinamento imutável que devemos observar até o fim dos tempos. Apenas a Igreja Católica continua afirmando e afirmará sempre a santidade do matrimônio, a sua unidade, a sua indissolubilidade, e a pureza do matrimônio.

Da boa doutrina sobre o matrimônio, sobre a família, depende a tranquilidade do homem em sua vida terrena e, em boa parte, depende a sua felicidade eterna. Da boa doutrina sobre a família, depende incalculavelmente a nossa vida cultural, social e política. A boa doutrina e a boa vivência do matrimônio trazem bênçãos para toda a humanidade, enquanto a corrupção do matrimônio traz a maldição para toda a humanidade. A vida familiar lança hoje um apelo, para que seja salva. Ela precisa ser restaurada. E ela só pode ser restaurada voltando-se à justa concepção cristã de matrimônio. Não há outra solução. A família precisa ser restaurada em Cristo.

É preciso que tratemos com calma e longamente do matrimônio. É preciso que tratemos longamente porque nos dias de hoje centenas de milhões de pessoas, muitas vezes nós mesmos, e muitas vezes os já casados, não conhecem as bênçãos da vida de família, não conhecem as bênção de um lar católico nem os meios para ter um lar cristão. Apenas conhecem as cruzes e provações, sem as armas devidas para carregar as cruzes, para superar as provações.

E cabe, em primeiro lugar, à Igreja tratar do matrimônio. Isso porque o matrimônio não é uma instituição meramente civil. É uma instituição religiosa. Primeiro, porque o matrimônio tem sua origem em Deus. Deus é o autor do matrimônio porque foi Ele quem criou os seres humanos e os criou homem e mulher, de tal maneira que precisam se unir para a perpetuação da espécie e para que se prestem auxílio mútuo. Mas, além de criar a natureza humana assim, Deus, ao tirar Eva da costela de Adão e dar-lhe como esposa, disse aos dois (Gênesis 1, 28): “Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra.” Ele instituiu claramente e com suas palavras o matrimônio. O matrimônio é algo que vem realmente de Deus e que, portanto, está sob a tutela da Igreja Católica, que é o reino de Deus nesse mundo. Em segundo lugar, o caráter religioso do matrimônio advém também da finalidade primária dele: a procriação. Pela procriação, os esposos são colaboradores do criador. A missão principal dos esposos é encher a terra de seres criados à imagem e semelhança de Deus, encher a terra de seres que têm o dever de servir a Deus na terra para adorá-lo depois na terra. No mesmo instante em que o corpo humano se forma em virtude da união dos esposos, Deus dá uma alma a essa nova criatura. É um título de legítimo orgulho para os esposos saber que são instrumentos na mão do criador. Ao gerar os filhos, o casal participa, em certo sentido, no ato de criação. Em terceiro lugar, os deveres vinculados ao matrimônio lhe dão também um caráter religioso: a família é por onde entra no mundo um novo ser humano e é onde ele cresce corporalmente, onde ele se desenvolve humanamente e espiritualmente até chegar à maturidade. A família é o lugar sagrado em que uma geração põe nas mãos da seguinte o facho da vida humana, aceso pelo Senhor ao criar o primeiro homem, e que continuará aceso até o dia do juízo final.

Com tudo isso, não é difícil compreender a solicitude da Igreja para com a família, para com o matrimônio. A família é a sociedade mais antiga que existe. Ela é a base para as outras sociedades. Se a humanidade tem seu centro de gravidade, de equilíbrio na família, podemos compreender o cuidado da Igreja com a família. Por isso, a Igreja zelou e zela tanto pela pureza e perfeição dessa pedra fundamental que é a família. Pedra fundamental que deve estar fundamentada, por sua vez, em Cristo e em sua Igreja.

A família não é importante somente para o Estado, mas é importante também para a Igreja de Cristo. A Igreja não é o Papa, embora ele seja a cabeça visível dela. A Igreja não são os bispos e sacerdotes, embora sejam a hierarquia e a parte mais importante da Igreja e embora exerçam as mais sublimes funções, que são a administração das coisas sagradas. A Igreja é composta também por uma multidão de fiéis que vêm de uma família. Com o vigor ou decadência, com as virtudes e com os pecados das famílias católicas, aumenta ou diminui também o vigor da Igreja, aumenta ou diminui o florescimento da Igreja. Se a fé e a moral se debilitam nas famílias, também a Igreja se enfraquecerá, embora permaneça sempre santa, embora permaneça a esposa imaculada de Cristo. Assim, a vida das famílias católicas está longe de ser indiferente para a Igreja e para a sua vida. Ao contrário, a sorte do Corpo Místico de Cristo está atrelada também à vida familiar de seus membros, bem como está atrelada às virtudes dos membros da hierarquia.

É preciso, então, tratar da família e do matrimônio, que forma a família. A guerra movida contra ela é um dos meios poderosos para levar os homens à perdição. E como diz o Padre Tihamer Toth, que nos serve de base para o que dizemos aqui: o combate pela concepção cristã do mundo não vai se decidir nem na rua, nem na vida pública, nem no parlamento, mas, sim, na vida de família. Claro que o Padre não está aqui dizendo que não se deva combater na rua, na vida pública ou no parlamento. É óbvio que precisamos combater também nessas esferas. Mas combateremos mais eficazmente nessas esferas quando tivermos um bom número de famílias católicas. De nada adiantará combatermos nessas esferas se não procurarmos realmente uma vida de família cristã. Diz o mesmo padre que por muitas que sejam as desgraças, as tribulações e as perseguições que o reino de Cristo haja de sofrer, tudo vencerá enquanto existirem famílias fervorosas que ofereçam a entrada a Cristo no silencioso santuário do lar.

Dada a grande importância da família católica, prezados, trataremos dela várias vezes no futuro, até o Sínodo sobre a Família, para permanecermos inabaláveis na doutrina perene da Igreja sobre a família, sobre o matrimônio. E o padre, embora não seja casado, pode e deve tratar da família e tem autoridade para isso. Saiu ele de uma família e do lar para o altar. Tem toda a tradição doutrinária, moral e pastoral da Igreja, rica de vinte séculos. E o sacerdote, no seu ofício de pai das almas, conhece as mais diversas dores, os mais variados conflitos, provações e problemas da vida familiar. Não conhece uma única família que seria formada por ele, mas inúmeras.

Que grande a importância da família, pai e mãe, unidos exclusivamente entre si e indissoluvelmente. E com os filhos, os filhos numerosos, se Deus lhes dá essa grande graça. Precisamos combater pela restauração da família católica, restauração em Cristo.

Padre Daniel Pinheiro.

Fonte: Missa Tridentina em Brasília.

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