Jesus Cristo, o Mestre

“Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.”

Caros católicos, nos dois primeiros domingos da Quaresma, consideramos quem é Nosso Senhor Jesus Cristo. Consideramos a sua divindade, nos baseando no seu título de Filho de Deus. Consideramos a sua humanidade, nos baseando no seu título de Filho do homem. Continuando a consideração de Nosso Senhor Jesus Cristo durante essa Quaresma, para poder amá-lo mais profundamente, devemos hoje considerar Jesus como Mestre. Os Evangelhos, mais do que a grandiosa história de um poderoso taumaturgo, é a história de um pregador das multidões. Muitas vezes, ouvimos a afirmação de que nos Evangelhos não há doutrina, mas que neles simplesmente se conta a história de Jesus. Assim falam os que querem esvaziar o ensinamento de Jesus, para mudá-lo, para distorcê-lo, para criar uma doutrina própria. Os discursos de Nosso Senhor ocupam praticamente 75% dos Evangelhos. E não podia ser diferente. O pecado original, além de nos tirar a graça, feriu também as nossas faculdades. Entre elas, feriu primeiramente a nossa inteligência. Depois do pecado original, inclinamo-nos para o erro, tendemos a não considerar as verdades sobrenaturais. Assim, o Messias deveria vir para restaurar também a nossa inteligência nos ensinando a verdade. Para restaurar o reinado de Deus nas almas e na sociedade, é necessário, primeiramente, restaurar a nossa inteligência fazendo-a conhecer a verdade e fazendo-a se submeter à verdade. É pela inteligência que conhecemos a nossa finalidade, que é chegar ao céu, e é por ela que podemos também dirigir a nossa vontade e as nossas paixões. A fé, que deve ser a luz que orienta inteiramente a nossa vida, está na inteligência. A fé é a adesão da nossa inteligência às verdades reveladas por Deus. Portanto, é impossível haver restauração ou redenção sem a fé, sem que nossa inteligência se submeta inteiramente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, para restaurar a vida moral, é preciso, antes, restaurar a nossa inteligência. Nosso Senhor veio, então, nos ensinar, de modo particular, a verdade. Alguns vêem como a causa da revolução a simples corrupção dos costumes, as paixões desordenadas. Como remédio, querem corrigir os costumes. Existe aí um erro sério. A primeira causa da decadência que vivemos está na inteligência, na perda da fé. É preciso, então, em primeiro lugar, restaurar a fé. Somente com a restauração da fé é possível restaurar os costumes.

Já nas profecias do Antigo Testamento o Messias é apresentado como um verdadeiro mestre. No Evangelho, Nosso Senhor é denominado rabi, que quer dizer mestre, inúmeras vezes. E Ele não rechaça esse título. Ao contrário, o aceita. Assim, Ele dirá (Jo 13, 13): “Vós me chamais Mestre… e dizeis bem, porque o sou.” Deus Pai, falando na ocasião da transfiguração, dirá de Jesus (Mt 17, 5): “Este é o meu filho bem amado em quem coloquei toda a minha complacência: ouvi-o.” Sim, é preciso ouvir aquilo que Nosso Senhor nos ensina. Além disso, os episódios mais marcantes da vida de Cristo são decorrência dos seus ensinamentos. Ele vai ser perseguido, crucificado e morto pelos chefes dos judeus em virtude da sua pregação, em virtude dos seus ensinamentos. Em particular, por afirmar ser verdadeiramente o Filho de Deus. As multidões o seguem também pela fama de seus ensinamentos, pela eloquência sobrenatural de suas palavras. Não há dúvida. Nosso Senhor é verdadeiramente mestre. E é mestre perfeito. Sendo Deus, não pode se enganar nem nos enganar. Aquilo que ensina só pode ser para o nosso bem. É preciso realmente ouvir o que nos ensina Nosso Senhor Jesus Cristo, colocando em prática o que nos disse.

Jesus é Mestre perfeito. Ele é o Verbo de Deus Encarnado. Ele é a Palavra de Deus encarnada. Ele é a sabedoria infinita encarnada. Luz de luz, “luz que ilumina todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1, 9). “Por Ele nos veio a graça e a verdade” (Jo 1, 17). Nosso Senhor dirá: “Eu sou o princípio que vos falo” (Jo 8, 25). Fica claro que Jesus é Deus que nos fala. Por isso, São Paulo diz aos Hebreus (1, 1 e 2) : “Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem criou também os séculos.” Jesus não é um representante de Deus, Ele não é o embaixador de Deus, ou o porta-voz de Deus. Ele é o próprio Deus feito homem que nos fala, caros católicos.

Como é sábio Nosso Senhor Jesus Cristo ao nos ensinar a verdade. Como dizia o povo que ouvia Jesus (Jo 7, 46): “Nunca homem algum falou como fala esse homem.” A inteligência humana de Jesus recebe diretamente a luz da sua inteligência divina. Daqui, a clareza, a simplicidade e, ao mesmo tempo, a profundidade estupenda das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo. Também a sensibilidade e a imaginação perfeitas de Jesus são auxiliares importantíssimos na sua pregação. O Mestre usa, então, os seres da natureza, os fenômenos da natureza, os episódios da vida cotidiana para ensinar as mais sublimes verdades. Assim, as aves do céu e os lírios do campo servirão para explicar a providência de Deus sobre todas as coisas (Mt 6, 26). Ensina a humildade nas boas obras dizendo que a nossa mão esquerda não deve saber o que fez a direita (Mt 6, 3). Ao mesmo tempo, compara os fariseus aos sepulcros caiados, brancos por fora, limpos por fora, mas podres por dentro (Mt 23, 27). Tal inteligência gerou frases lapidares, que em poucas palavras dizem praticamente toda a doutrina evangélica: “onde está o teu tesouro, ali está também o teu coração (Mt 6, 21)”, ou “que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? (Mc 8, 36).”

Nosso Senhor arrastava também os seus ouvintes porque pregava uma doutrina perfeita e que dirigia os homens à perfeição. No Antigo Testamento, os ensinamentos de Deus pelos profetas foram preparação para o ensinamento de Nosso Senhor. E Nosso Senhor ensinava também com autoridade, uma autoridade sobrenatural. Autoridade para estabelecer uma Nova Lei, a Lei Evangélica, autoridade para fundar a sua Igreja, autoridade para condenar os erros, mesmo com veemência quando necessário. E as multidões reconheciam essa autoridade de Jesus Cristo. Em São Marcos (1, 22) está dito: “E os ouvintes ficavam admirados com a sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.” A autoridade de Nosso Senhor é serena. Basta lembrarmo-nos do Sermão da Montanha. Todavia, o Mestre sabe também recorrer às condenações veementes, ao discurso rápido e cortante para corrigir um erro ou quando a hipocrisia e maldade de seus inimigos o obrigam a isso. Finalmente, o ensinamento de Nosso Senhor é também universal. Seus ensinamentos se dirigem a todos os povos de todos os tempos. As lições aparentemente tão particulares de Nosso Senhor, seus exemplos tirados muitas vezes do cotidiano da época e daqueles lugares por onde andou, são, na verdade, universais. Nosso Senhor se dirige a todos nós.

Ao pregar, ao ensinar a todos nós, Cristo tem um objetivo preciso. Seu objetivo é que tenhamos a vida eterna. Para tanto, precisamos em primeiro lugar crer. “Aquele que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado”, nos diz Nosso Senhor. Devemos, então, crer em tudo o que Ele nos ensinou. Devemos fazer parte da sociedade que Ele fundou, que é a Igreja Católica. Devemos colocar em prática os ensinamentos do Mestre. Como nos diz São Pedro, Ele tem palavras de vida eterna. E seu jugo é suave e leve. Como cantamos no Trato da Missa de hoje, assim como os olhos do servo se fixam nas mãos do Senhor e os da escrava nas mãos da senhora, para agir imediatamente a qualquer gesto deles, devemos ter a nossa alma pronta para fazer a vontade de Deus em todas as coisas, para seguir todos os seus ensinamentos.

Padre Daniel Pinheiro.

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