Livro: Pio X

A biografia de São Pio X, da editora portuguesa Aster, infelizmente raríssima no Brasil, é um passeio deslumbrante sobre a vida desse grande homem de Cristo, que foi um menino pobre, filho de um Aguazil (meirinho) com doze irmãos, Seminarista, Pároco, Cardeal e Papa com o nome de Pio X.

Tudo na vida desse homem, batizado José Melchior Sarto (Giuseppe Melchiorre Sarto) é marcado pela simplicidade e pela santidade, com a sua beleza edificante. Nascido pobre em uma cidade pequena da Itália, conseguiu estudar com muita dificuldade e auxílio de várias pessoas que sempre enxergaram naquele menino de olhar penetrante uma promessa de bom seminarista e padre. A imagem do menino de sete anos andando vários quilômetros todos os dias para a escola, com os sapatos amarrados nas mãos para não gastá-los, é um toque comovente de um coração simples que o acompanharia durante toda a vida.

Como seminarista se destacou formando-se com louvor, sendo orgulho de toda a família e da cidadezinha, em especial a sua mãe viúva, o pai morreu quando ele ainda era pequeno.

Como Padre manteve sempre a simplicidade, amor pelos estudos, esmero pela fé das suas ovelhas e dedicação as que estavam desviadas. Como exemplo podemos contar duas situações. A primeira é que ele, ao assumir a paróquia de uma pequena cidade do interior da Itália, percebeu, na primeira missa, que só frequentavam a igreja umas quarenta mulheres idosas, dessas apenas oito comungavam. Depois de um longo trabalho, de nove anos ininterruptos, ao deixar a paróquia, praticamente toda a população da cidade e das vilas vizinhas podiam se dizer filhos da Padre Sarto. Outro caso é sua capacidade de doar praticamente tudo o que recebia de oferta para os necessitados, o que fazia com que ele, não raras vezes, passasse necessidade. Era comum o seu jantar ser um pequeno pedaço de queijo ou dois ovos cozidos.

Foi feito Cardeal no consistório de 1893 o que para ele, para a sua cidade natal, para sua família e para sua cidade paroquial, foi uma surpresa e fonte de alegria e de tristeza. Alegria por receber essa confiança do Seu amado Papa Leão XIII, o Leão da Fé. E tristeza por ter que deixar a sua paróquia e as suas ovelhas, que o acompanhariam na mente e no coração durante toda a vida. O seu patriarcado se deu na belíssima e histórica cidade de Veneza, um tesouro da humanidade, com uma população católica e com um governo ateísta e anticlerical. Com sabedoria e coragem, além de muitas orações e jejuns, conseguiu colocar a vida religiosa e a relação com o poder político temporal a bom termo. Os Venezianos o chamavam de “Don Beppi”. Impressionou muito a todos quando um professor materialista da cidade estava ao leito de morte. Ao saber do fato, Don Beppi saiu do palácio patriarcal e foi até a casa do moribundo, onde depois de conversar bastante, ouviu a sua confissão, deu-lhe a absolvição e o viático. O Professor partiu em paz e reconciliado com a Santa Mãe Igreja.

Após a morte do Papa Leão XIII, de venerável memória, Cardeal Sarto foi ao conclave de 1903 com o coração entristecido e preocupado, como todos os católicos do mundo.

A profecia de São Malaquias, Monge Bretão que escreveu uma lista de Papas sucessivos em frases que resumiam sua vida trazia ao sucessor de Leão XIII o lema: “Ignis Ardens”, ou fogo aceso em português. Essa profecia, sempre tão presente e precisa nos conclaves e na vida dos Papas desde o Século XII, também habitava os corações e mentes de todos os Cardeais do Conclave, que sem perguntavam o que significaria essa enigmática frase? Uns se arriscavam a dizer que era por causa do Cardeal Rampolla, que nascera na Sicília, terra do terrível vulcão Etna, dentre muitos outros cardeais que tinham nomes e situação que poderiam ter relação a profecia. Porém, quis a divina providência que o nome dizia respeito ao Cardeal Sarto, que até hoje é uma luz que brilha iluminando e guiando todos os que navegam nas águas turbulentas da fé nesse mundo árido.

Após a sua eleição, como Papa Pio X, iniciou-se uma nova fase da Igreja Católica no mundo.

Todas as suas ações obedeceram, sempre, o seu lema, ou moto: “Instaurare Omnia in Christo” Restaurar todas as coisas em Cristo. Dentre essas ações as mais profundas foram o aprofundamento e a ordem para se usar o canto gregoriano nas Santas Missas, a intensificação do latim nas missas e no breviário (livro de orações que marcam as horas do dia em que o Sacerdote deve rezar e quais as orações) e a restauração de Cristo e da Virgem Maria como centro da fé católica.

Tudo isso aliado a sua luta contra o que se chamou de “modernismo” ou toda a tentativa de desconstruir os valores imutáveis passados por Deus e por Cristo aos Apóstolos e presentes na Igreja por dois mil anos, ou mudando-os, adaptando-os as modas de filosofias estúpidas, como o Jansenismo, ou criminosas, assassinas e satânicas, como o Socialismo, Comunismo e o ateísmo materialista. Essa luta lhe valeu o apelido de “O martelo dos modernistas”.

Durante o seu papado, assim como em toda a sua vida sacerdotal, os rumores sobre milagres iam aumentando e tomando proporções internacionais. Por meio do Papa Pio X muitas pessoas receberam milagres de curas portentosos e inexplicáveis o que fez com que sua fama de santo só aumentasse. Um desses milagres foi o de uma menina Irlandesa, filha de pai protestante e de mãe católica, que tinha uma espécie rara de lepra que deixava todo o seu corpo com pústulas horríveis, inclusive no rosto, o que obrigava a menina a usar um véu. Durante uma audiência no Vaticano o Papa abençoou a menina e disse que queria que ela se curasse durante uma oração intensa. A doença desapareceu deixando a todos atônitos.

Ao final da vida, já na iminência da Primeira Guerra Mundial, o Papa, já sabendo o que se abateria no mundo, intensificava as orações e o sofrimento por conta da tragédia que se avizinhava. A todos, sempre que podia, alertava pelo que estava prestes a acontecer.

Em 30 de maio de 1913, ou seja quase um ano antes do início da Guerra apocalíptica, o Dr. Bruno Chaves, Embaixador do Brasil junto a Santa Sé, foi transferido. Pio X o estimava muito e sempre conversava com ele com grande confiança. Desta vez não foi diferente e se travou o seguinte diálogo entre a Sua Santidade, o Papa Pio X, e o estimado Embaixador brasileiro:

– O senhor é feliz, senhor Ministro, por voltar para a sua casa no Brasil. Assim não será testemunha da Guerra Mundial.

– Sua Santidade se refere ao conflito nos Bálcãs?

– Os Bálcãs são o princípio de uma grande guerra que eu não posso impedir, e a qual não vou sobreviver.

Algum tempo depois, passeando pelos jardins do Vaticano, o Papa confiou ao Monsenhor Bressan os seus temores:

– Sinto compaixão do meu sucessor. Eu não o verei, mas a “Religião desolada” é iminente. “Religião desolada” era a descrição do próximo Papa na profecia de São Malaquias.

Por isso, depois da eclosão da Primeira Guerra Mundial, que começou com um atentado nos Balcãs, precisamente em Sarajevo na Bósnia, que matou o Arquiduque Francisco Ferdinando e sua amada esposa, a vida de Don Beppi não durou muito. A sua morte foi chorada e lamentada pelo mundo inteiro e a sensação de desamparo foi imensa.

Passados alguns anos, em 20 de fevereiro de 1939, as vésperas de mais uma Guerra Mundial, um cardeal deixava apressado a sala do conclave para ir ao subsolo da Basílica de São Pedro onde estão os restos mortais de muitos Papas. Esse cardeal foi visto rezando fervorosamente em frente a urna mortuária do saudoso Papa Pio X. Lágrimas lhe escorriam pelo rosto copiosamente. Os cardeais acharam estranho pois era esperado que ele clamasse pela intercessão do Papa que acabava de falecer e de quem tinha sido amigo e fiel colaborador, no caso Pio XI. Esse Cardeal se chamava Pacelli e havia recebido uma visão naquela mesma noite. Pio X havia aparecido para ele e lhe dito:

– Filho, bom ânimo! Caberá a ti a tarefa de levar a cruz da Igreja de Cristo.

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Papa Pio XII: Visão do Papa Pio X durante o conclave de 1939.

Esse Cardeal seria mundialmente conhecido pelo nome que escolheu após o conclave: Papa Pio XII.

Espero que esse breve resumo não impeça a leitura do livro “Pio X” do Sacerdote Português José Maria Javierre, escrito em 1951 e publicado com “imprimatur” do Arcebispo de Coimbra, Portugal em 1959, disponível no Brasil pela Editora portuguesa Aster.

Em que pese ser um livro escrito por um Padre Português em 1951 sobre um Papa italiano do começo do século XX é uma preciosidade para nós, habitantes da criação no século XXI, que andamos tão desorientados e carentes nesse mundo relativista, tecnológico e materialista.

São Pio X, rogai por nós!

Olavo Mendonça.

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