Sacerdócio Universal

Sacerdócio Universal

Somos partidários de uma igreja fora dos padrões institucionais tradicionais, aqueles que formam a organização da igreja evangélica /protestante no país. Não somos uma igreja para ir, somos uma igreja que vai. Aprendemos sobre o valor de cada indivíduo no corpo de Cristo. Recebemos a doutrina da santidade, da simplicidade e amor. E mesmo banhados em tantas preciosidades ainda temos grande dificuldade em colocar alguns destes princípios em prática. Na teoria sabemos tudo, mas nossa prática ainda deixa a desejar.

A doutrina do Sacerdócio Universal é um dos pilares da teologia reformada, além de uma sólida base para nosso ministério. Significa que cada membro do corpo de cristo está no mesmo patamar diante de Deus, não existem aqueles que estão um passo a frente, não há intermediários, cada um de nos tem livre acesso a Deus. Não existem tarefas exclusivas, que só podem ser realizadas por pessoas especiais. O ministério do Senhor precisa ser exercido por cada membro ativo do Corpo de Cristo.

Efésios 4:11-12
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
Primeiramente, é importante averiguar a concepção bíblica do ofício sacerdotal para traçar um paralelo com as missões que nos foram delegadas. E, um segundo passo, investigar o modelo de sacerdote que está desenhado em nossas mentes e como ele tem afetado a capacidade de produzir frutos para o Reino de Deus.

Hebreus 5:1 traz uma definição do ofício do sacerdote:

Hebreus 5:1
Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados;
Os sacerdotes, como servos da Aliança, tinham o ofício de mediadores, atuando nos dois sentidos: do Povo para Deus e de Deus para o Povo.

Eles trabalhava como apoio em tarefas estabelecidas pelo próprio Deus (reveladas na lei de Moises) , sendo responsáveis pela manutenção do tabernáculo e, posteriormente , do templo, o ensino e pela música orquestral e coral. Além disso, a ordem dos sacerdotes era hereditária e exclusiva à tribo de Levi.
Na verdade os sacerdotes da antiga aliança não possuíam os meios para concretizar uma reconciliação verdadeira com Deus, mas, apenas, representava o princípio preparatório da propiciação (cobertura do pecado). Os animais oferecidos nos sacrifícios simbolizavam a transferência dos pecados da pessoa pecadora para uma vítima inocente.

Como conseqüência, a natureza daqueles sacrifícios era simbólica, “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.” (Hb 10.4).

O modelo incialmente criado para estabelecer ordem no culto e no cuidado com as coisas relacionadas ao Senhor, acabou criando uma classe especial de cidadãos, os Sacerdotes. É importante salientar que a eleição da casa de Levi para o ofício sacerdotal não tinha objetivava separar pessoas que estivessem mais perto de Deus. Tanto é que quando iam oferecer sacrifícios pelos pecados do povo os sacerdotes tinham que oferecer também por seus próprios pecados. Ainda assim, executavam a tarefa de intermediar o relacionamento entre Deus e os homens.

O modelo do sacerdócio do antigo testamento teve uma data certa para ser encerrado. Deixou de valer no momento exato quando o senhor Jesus disse:

Está consumado!

João 19:30
E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

No momento da morte de Cristo o véu do santo lugar se rasga de cima a baixo, indicando que a partir daquele momento cada miserável e pecador habitante deste planeta tem livre acesso ao pai. Está consumado! Finalmente nossas dívidas foram pagas, o castigo que era nosso foi tomado por Ele. Fomos libertados da prisão do pecado e colocados face a face com o Rei do universo.

Mateus 27: 51
E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras;

Pronto, o modelo antigo estava morto. Então porque ele não morreu? Porque no decorrer da história da igreja negligenciamos o simbolismo ruptura do véu e nos abraçamos a líderes que ostentavam lindas vestimentas e resgatavam a figura do intermediário. Remendando véu partido pelo sacrifício do Senhor Jesus.

Acontece que durante o desenvolvimento da igreja, a necessidade organização do trabalho, o afastamento das tradições primitivas a absorção da máquina administrativa Romana entre outros diversos fatores históricos. Acabou criando a concepção da igreja sendo sinônimo do clero. A igreja tornou-se o clero. Até hoje quando queremos nos referir à alguma atitude tomada pelos órgãos administrativos Católicos, costumamos dizer: A igreja fez isso, A igreja disse aquilo…

Com esfacelamento do Império Romano os serviços básicos, como correios, só podiam ser realizados através da máquina administrativa da Igreja. Que passa atuar na política exercendo muita influência durante toda a idade média.

Agora sim, o povo esta dividido em duas classes distintas: o Clero e o Laicato (ou leigos).

A palavra leigo quer dizer alguém do povo. Como conseqüência, o seu uso para os não consagrados aos ministérios é inexato e até inadequado. Na verdade, todos nós somos ministros, pois todos somos servos. E todos somos leigos, porque todos somos povo. Assim, não temos clero nem leigos.

Muito do fortalecimentos da imagem do “sacerdote cristão“ como ente especial vem da exclusividade da celebração dos sacramentos. Principalmente a eucaristia, que para os católicos tem um caráter sacrificial, a repetição do sacrifício de Cristo, o que implicaria, em tese, a necessidade de um sacerdote.

(Catecismo Católico )1330. Memorial da paixão e ressurreição do Senhor.
Santo Sacrifício, porque actualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, «Sacrifício de louvor» (Heb 13, 15) (158), Sacrifício espiritual (159) Sacrifício puro (160) e santo, pois completa e ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança.

Martinho Lutero descobriu o conceito de sacerdócio universal dos crentes, o que exigiu uma verdadeira revolução no modo de encarar a Igreja: não mais na maneira medieval, na qual a Igreja era vista como a hierarquia e, sim, como o povo. (Revista Caminhando, v. 4, n. 1 [6], 2010 [2a ed. on-line; 1a ed. 1993] pág 25)

Mesmo com a instituição, pelos reformadores, da igreja como o povo e não o clero, as tanto as igrejas protestantes históricas quanto as recentes pentecostais e neo-pentencostais, guardaram muito da tradição romana.

Assim, na maioria das igrejas evangélicas é muito comum que casamentos, batismos, enterros ou a ceia do Senhor só possam ser ministradas por pastores ordenados. Dessa forma, os membros da igreja deixam de ser um exército de pregadores e fazedores da obra e degeneram-se em auditório ávido por superproduções e shows de fé. Famintos por pregações que lhes reforcem o conforto. E, infelizmente, muitas vezes, nos somos esse auditório.

As pessoas reproduzem este sistema não apenas porque é mais agradável, ou mais fácil, mas principalmente por ter este modelo de sacerdócio impregnado em suas mentes e almas, por gerações de tradição religiosa. O mesmo ocorre com a liderança que teme a perda de autoridade e valoriza estas tradições, reproduzindo um modelo que imobiliza os membros do Corpo de Cristo.

Mas qual é o modelo para o exercício do sacerdócio criado com a nova aliança?

O profeta Joel já nos dá uma pista de como o Senhor planejava a atuação das pessoas a partir do derramamento de seu
Espírito Santo:

Joel 2:28 e 29
E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.

A idéia da profecia de Joel é a pulverização da atuação do Espírito Santo, se antes o esta ação ocorria apenas através de poucos ungidos do Senhor a promessa agora é que esta unção chegará a todos. Independente de idade, posição social, raça ou sexo. Uma verdadeira revolução no modo como os judeus viam possibilidade de ação do Senhor através da vida das pessoas.

Algumas denominações históricas, e mais expressivamente neopentecostais, têm esquecido esta profecia e outros textos (Efésios 4:11-12, 1 Timóteo 2:5, 1 Pedro 2:5 ) e parecem estar buscado suas bases ministeriais no Antigo Testamento. Por exemplo, alguns destes ministérios afirmam que o Pastor é o ungido do Senhor. Além disso, temos observado a tendência da criação de uma hierarquia eclesiástica evangélica que ultrapassa os limites da racionalidade. Na vanguarda da criação de cargos vão muito além dos tradicionais pastores e bispos. Hoje já é comum encontramos ministérios liderados por apóstolos, arcanjos entre outras denominações que emprestam grande prestígio a seus usuários.

Se o antigo testamento nos dá um vislumbre do derramamento do poder de Deus sobre seu povo, nas epístolas da nova aliança podemos ver de modo pulsante e vivo o cumprimento das promessas de Deus.
1 Pedro 2:5

Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

O sacrifício de Cristo completa a obra redentora do Senhor, o sangue do cordeiro de Deus finalmente limpa os nossos pecados e somos libertos da propiciação incompleta, oferecida pelos ritos sacrificiais.

1 Timóteo 2:5
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.
Cristo consolida seu projeto messiânico e torna-se nosso sumo-sacerdote, nos liberta de qualquer dependência humana para termos acesso ao pai. Seu sacrifício limpa nossas vestes e permite ao que é impuro e pecaminoso estar diante do perfeito e Eterno. Torna o que imundo em coisa agradável ao Senhor.

1 Pedro 2:9
Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;

E ainda somos incumbidos de anunciar o reino, as maravilhas e as virtudes de nosso salvador. A tarefa que coube apenas a poucos profetas durante toda a história do antigo testamento agora é parte integrante de nossa missão enquanto Cristãos.

Contudo, o estabelecimento do sacerdócio universal não significa que a partir daquele momento foi abolido o papel da liderança Cristã, ou mesmo de uma hierarquia na organização operacional da Igreja, muito pelo contrário:

Efésios 4:11-12
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;

1 Coríntios 14:39-40
Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.

Os apóstolos continuam liderando o povo, ensinando, batizando, exortando. Entretanto, grande parte do ministério deles é na preparação do líderes locais para que estes possam levar adiante a obra, sem a dependência da presença física dos mestres (Daí das cartas às igrejas). Os líderes cristãos devem estar habilitados a preparar seus discípulos para de forma que estes possam agir independentemente da sua presença. Dessa forma, implementamos ao ministério do senhor uma força sinérgica e que poderá levar nossas igrejas, células e famílias a conquistar muito além do que nos parece possível.

A grande pergunta é como eu, no cotidiano, posso exercer este sacerdócio?
Para mim está é grande pergunta que precisamos responder. Pois quando tomamos consciência de nosso papel como sacerdotes do senhor deixamos de por tanto peso em nossas lideranças e começamos a experimentar a plenitude da vida cristã. Deixamos de fazer parte daquele auditório faminto e somos levantados como parte do exército que está saqueando o inferno.

Mas na prática como fazemos isso? O apostolo Paulo nos dá uma boa direção no livro de Romanos.

Romanos 12:6-21
6 De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; 7 Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; 8 Ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria. 9 O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. 10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. 11 Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; 12 Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; 13 Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; 14 Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis. 15 Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram; 16 Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos; 17 A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens. 18 Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. 19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. 20 Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. 21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.

Gostamos de pensar no sacerdócio universal apenas quando nos referimos às grandes tarefas litúrgicas, casamentos, direção de cultos, pregações. Mas ministério significa servir. E este serviço deve começar nas pequenas coisas.

Devemos começar assumir o papel sacerdotes em nossas casas, orando com os nossos e pelos nossos, partilhando o pão em família, ministrando uns aos outros. Quando estivermos em nossas células ou celebrações , nenhuma tarefa é pequena demais, toda contribuição faz parte do culto prestado ao Senhor. Desde de ficar à porta recebendo as pessoas até ser o pregador da noite, todo o serviço é da casa do Senhor e, por consequência, exercício do sacerdócio.

Sacerdócio é serviço e abnegação. Se de um lado o povo precisa deixar o conforto dos bancos e dos sermões emotivos e colocar a mão na massa, do outro liderança precisa confiar que sua autoridade não depende monopólio do serviço. Todos precisamos colocar nossa confiança e esperança no Senhor e caminhar para o Alvo. Livres da vaidade, do orgulho, da soberba e cheios de temor por termos o privilégio de realizar a obra de nosso salvador.

Palavra ministrada no dia 14 de outubro de 2012, no Ministério Grão de Mostarda

Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar
Fonte: https://lfmeganha.wordpress.com/2012/10/15/sacerdocio-universal/#more-67 

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