O BRASIL E AS GUERRAS HÍBRIDAS: O CASO DA AMAZÔNIA

Descrição das estrategias de guerra hibrida usadas contra o Brasil, pelos seus inimigos que desejam apropriar-se da região amazônica.

Antes de adentrarmos no tema específico das guerras híbridas, faz-se necessária uma distinção: segundo acredito, a guerra híbrida é apenas uma das espécies de guerra de quarta geração – G4G. Adiantando alguns temas que tratarei em outro momento e por outros meios, as outras duas espécies são a guerra contra instituições e a guerra identitária.

Uma das premissas da teoria da G4G é que os estados-nação encontram-se enfraquecidos. Com as tentativas e, de fato, a redução das soberanias de diversos países, o estado-nação tem sido conduzido, em alguns casos, à quase irrelevância. Devido ao seu enfraquecimento, outros atores se tem erigido e tentado obter a proeminência entre diversos poderes; são entes tanto sub-nacionais quanto sub-estatais, para-estatais, supra-estatais e inter-estatais. Em diversos momentos entes para-estatais sub-nacionais tem sido estimulados e apoiados por entes internacionais, e até supra-estatais.  No caso da guerra híbrida, o objetivo é promover o caos em países cujas instituições sociais e políticas tenham sido previamente desestabilizados por meio de guerras contra-institucionais, e concomitantemente apoiando entes internos ao país a ampliarem suas forças, ocuparem maior espaço político, e conquistarem maior legitimidade, visando a derrubada geral do governo ou de um regime político, por intermédio de uma “revolução colorida”. Quer dizer, a revolução interna é promovida de fora para dentro, utilizando as vulnerabilidades dos estados enfraquecidos.

Estados fortes são imprescindíveis por pelo menos um motivo: ninguém consegue o mínimo à subsistência sem a estabilidade gerada pela ordem. As pessoas precisam trabalhar para conseguir alimentos e roupas para si próprios e para suas famílias. Pessoas que cruzam as ruas ou caminham pelas estradas precisam de um mínimo de segurança, necessitam estar certos de que sairão e retornarão vivos para suas casas com os mantimentos essenciais; que ao retornarem às suas casas as encontrarão incólumes e sua família viva, por exemplo. Assim, qualquer ente que estabeleça ordem será imediatamente apoiado pela população. Se esta ordem estiver apoiada em outras razões e motivos, sejam econômicos, afetivos, políticos, religiosos, a legitimidade será uma decorrência natural. Portanto, qualquer que seja o ente, estatal ou não-estatal, a busca, instalação e manutenção da ordem deve ser o objetivo primordial. Inversamente, as forças contrárias, quem quer que sejam, estatais ou não-estatais, lutarão pela manutenção da desordem que possibilita a instabilidade.

A atuação das Forças Armadas brasileiras no Haiti, coordenando as tropas da ONU, é um exemplo positivo de ente supra-nacional atuando para a re-instauração da ordem em um estado que deixou de existir depois de golpes de estado seguidos de terremotos avassaladores. Nossas Forças Armadas fizeram um excelente trabalho, neste sentido, atuando não somente na repressão aos grupos armados anti-estatais que aterrorizavam a população, mas também atuando na regularização dos serviços públicos, como atendimento médico e remoção da montanha de lixo que se acumulava nas ruas após o colapso do governo haitiano.

O exemplo contrário é a invasão da Somália executada pelas Forças dos Estados Unidos, há muitos anos. Diferentemente do que se anunciava e se esperava, o resultado foi o maior enfraquecimento do estado na Somália, abrindo ainda maiores brechas para a atuação de atores não-estatais, como os tribunais islâmicos, que implantaram a Sharia. A população apoiou tais tribunais porque quase de imediato eles conseguiram estabelecer um mínimo de ordem ao cotidiano das pessoas. Houve uma tentativa de instalação de um Governo Provisório com ajuda internacional e apoiado por forças estrangeiras, mas isto fez apenas com que tais grupos buscassem legitimidade por intermédio da promoção do nacionalismo radical. O resultado, passados muitos anos, todos nós conhecemos. Depois de uma década da invasão, o Estado na Somália não apenas enfraqueceu mais, mas tornou-se irrelevante. Os entes não-estatais expandiram seu poder até o ponto de derrotar a única potencia militar mundial, à época, quando esta tentou, supostamente, re-estabelecer a ordem.

Deveras, em um país cuja população viva abaixo de linhas básicas da dignidade humana, onde a miséria e a pobreza reinem absolutas, os resultados de uma invasão estrangeira seriam quase que totalmente previsíveis, se esta não for acompanhada de medidas de melhoria das condições de vida da população. Porém, os mesmos resultados, como a tomada de espaço por grupos anti-estado, se manifestam em países cujo desenvolvimento sedimentou há muito tempo. Nestes o padrão de vida da população está localizado em patamares muito elevados. Por conseguinte, supõe-se que não ofereceria condições para o crescimento de tais entes. A realidade, contudo, desmente nossas expectativas. Em vários países do continente europeu, na Inglaterra com mais intensidade, comunidades muçulmanas dominaram bairros de grandes cidades e lograram implantar a própria lei, à revelia do estado inglês. Nestes bairros a própria polícia inglesa não entra. Isto significa que ali os muçulmanos estabeleceram um lugar de autonomia. A partir daí, com o domínio de vários bairros e  de varias pequenas cidades do interior, desenha-se uma rede com inúmeros nós que tende a crescer ininterruptamente, em crescimento gradativo, transformando a autonomia em soberania, até o domínio completo, substituindo um estado por outro.

Para os nossos objetivos imediatos é importante destacar que a estratégia utilizada é semelhante tanto para os países subdesenvolvidos quanto para os desenvolvidos. Como toda semelhança implica a presença de diferenças,  o que difere na aplicação da estratégia em ambos os tipos de países é a oportunidade de aplicação e o tempo de execução; os resultados buscados são exatamente os mesmos, independentemente de quem aplique a estratégia.

Vejamos agora como estes elementos das guerras de quarta geração estão sendo aplicados no Brasil e contra ele, pelos seus inimigos.

Uma das características das G4G é que devido ao surgimento de outras potencias mundiais, mesmo a superpotência americana evita realizar ataques diretos a variados países, e quando o faz, procura justificar moralmente tais ações. Com efeito, a imagem e a sanção internacionais podem causar inúmeros problemas, porém, o problema principal encontra-se geralmente na opinião pública interna. Países poderosos, como Estados Unidos, Rússia e China, têm evitado tais percalços financiando ações invasivas, por diversos meios, terceirizando a guerra, isto é, estabelecendo verdadeiros exércitos privados e contratando-os para realizar o trabalho que suas tropas militares não devem fazer por motivos de controle do público interno a estes países. O importante nestas ações, muito mais do que o controle da opinião pública é a dissimulação. O país alvo da invasão não deve perceber que está sendo invadido e que está sofrendo um ataque que o destruirá por dentro, como um câncer.

No Brasil, o “exército” invasor é composto de inúmeras ONG’s que se concentram na região amazônica. Estranhamente, atuam naquelas regiões onde há grande concentração de petróleo e água, jazidas minerais, como o ouro e “terras raras”. Estas terras são essenciais às indústrias 4.0 das potenciais econômicas. Por exemplo, baterias de celulares são construídas a base de lítio, encontrado em abundância na Bolívia. No Brasil temos, entre as conhecidas, o Nióbio e o Grafeno, mas existem muitas outras.

Nas últimas décadas tem crescido exponencialmente a quantidade de ONG’s estrangeiras atuando na Amazônia brasileira, bem como a disponibilização de fundos para financiar tais atividades. Destacável nestas atuações é que até onde se conhece, são os doadores, como a Noruega, que determinam onde e como devem ser aplicados tais fundos, praticamente não permitindo que o estado brasileiro interfira nestas questões. Mais recentemente houve reação do governo brasileiro, com a intenção de “compartilhar a gestão destes fundos”. Na prática, isso significaria o “compartilhamento da soberania nacional’ não fosse isso uma contradição de termos.

As ONG’s internacionais, máxime, têm ocupado espaços nas áreas amazônicas que o estado brasileiro nunca ocupou ou simplesmente abandonou por estrita incúria. A população brasileira daquelas plagas, abandonada, foi adotada por estas entidades e suas necessidades foram atendidas, senão em sua totalidade, pelo menos em aspectos essenciais. Paralelamente a isso, tais entidades começaram um lento trabalho de conquista das suas lealdades. Ações como o ensino da língua pátria da entidade atuante, financiamento de obras e serviços, doação de bolsas de estudos no país de origem. Existem relatos de que em determinadas aldeias, índios brasileiros falam inglês com certa fluência, mas não entendem a língua portuguesa. Existe também o caso de ONG’s que atuam atraindo jovens do centro e do litoral do Brasil, explorando sua natural ingenuidade e idealismo, e depois os submetendo a trabalho de desindentificação pessoal e nacional. Uma das técnicas utilizadas é justamente o isolamento dos laços sociais nas suas cidades de origem, mas principalmente dos laços familiares. Com isso o trabalho é facilitado, pois são submetidos a isolamento, inclusive devido à grande distância dos principais centros urbanos, e treinamento intenso, incluindo lavagem cerebral. Devido à limitação da idade dos jovens, que não pode passar de vinte e nove anos, aparentemente, um dos objetivos é transformá-los em guerrilheiros: seria uma autentica “FARC brasileira” se a ONG não fosse financiada por capital estrangeiro. Aqui a abordagem, no entanto, apresenta algumas variações. As FARCs, conhecido grupo de comunistas narco-guerrilheiros da Colômbia, sequestravam crianças para obrigá-las a se tornarem seus soldados, enquanto no Brasil os jovens são atraídos com promessas de “luta para salvar o meio-ambiente”. Os exemplos são numerosos, tanto que seria difícil citar a maioria deles.

O que essas ONGs têm feito, então, é organizar-se em redes e criar pequenos espaços de autonomia local. A partir daí começam a interligar os nós e expandir sua influência, para depois conquistar soberania sobre estes pequenos territórios, se necessário pela força das armas, bem como com a anuência e apoio de entidades supranacionais agindo em conjunto com os entes financiadores, não-estatais e até estatais.

Simultaneamente à ocupação gradativa do território, formando uma teia que cubra os seus principais pontos de interesse, estas entidades buscam a deslegitimização do governo. É fato que isso está acontecendo atualmente. Não importa o que o governo do presidente Bolsonaro faça de bom, a interpretação dos fatos sempre será negativa. A legitimidade é um dos alvos nas G4G. É preciso destruir a legitimidade do governo, mesmo que este tenha sido eleito democraticamente consoante a lei, e apresentar-se como legitimo defensor da população abandonada.

Uma das táticas utilizadas pelos entes para-estatais estrangeiros atuantes na Amazônia é a ideologização. À semelhança dos ataques com vírus biológicos das batalhas bacteriológicas, nas G4G são utilizados os vírus ideológicos. Tais vírus têm uma curva de contaminação muito parecida com as das pandemias virais. Começam devagar e depois a taxa de crescimento é acelerada até atingir crescimento exponencial. O problema é que, inversamente aos vírus biológicos, a vacina para tais vírus, quando aplicada, leva pelo menos uma geração para gerar os efeitos desejados. Portanto, a única forma de impedir o avanço da contaminação ideológica é criar barreiras ao contato com a população ou afastar de vez os agentes infecciosos.

Ainda que nos seja difícil aceitar que brasileiros contribuam com a destruição do país pela via da entrega do nosso território a estrangeiros, parece evidente que isto ocorre em grande medida. O escandaloso disso tudo é que são autoridades que cometem estes atos impatrióticos. Dissemos que ordem e desordem são, respectivamente, alvos dos oponentes nas G4G. Ocorre que nem sempre o “estado” deseja manter a ordem. No caso em tela, membros do estado é que são os geradores das condições para o surgimento da desordem, se não diretamente, pelo menos indiretamente. Durante a suposta pandemia do Coronavirus temos visto inclusive componentes do STF liberando condenados para evitar que sejam contaminados na prisão. Desnecessário explicar a ilogicidade dessas ordens e qual o risco para a sociedade. A liberação, entretanto, atende, assim parece, à intenção de manter livre um efetivo pronto para promover violência, para amedrontar a população, e desordem, para enfraquecer o governo perante a opinião pública. Quer dizer, componentes do estado, pagos pelo povo, estão a serviço de forças estranhas para deslegitimar o governo e favorecer a sua deposição.

As estratégias, portanto, não diferem, em essência, mas sim na sua aplicação, considerando os aspectos contingenciais. Desvelar a estratégia de nossos inimigos, compreendendo sua lógica interna, é o primeiro passo para começar o trabalho de reversão da perda de parte importantíssima de nosso território, assim como da corrosão da soberania nacional.

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