Polícia e Revolução

POLÍCIA E REVOLUÇÃO

Vivemos um momento delicado na história de nosso país, nossas instituições, fragilizadas pela violência, corrupção e inversão dos valores democráticos, agonizam diante de uma população perplexa e anestesiada por sucessivos escândalos com desfecho, quase sempre, previsíveis e decepcionantes. Somos o recheio de um prato amargo e frio, que se tornou a decadente República Brasileira.

Se a “pizza” virou o prato principal na política, a população brasileira é servida à Milanesa para o deleite de uma horda de criminosos violentamente fúteis, que levam o número de homicídios no Brasil ao livro dos recordes. Se estamos no topo de algum raking mundial, é no dos homicídios, podemos dizer com orgulho que ninguém é melhor nisso em todo o planeta. E a única barreira entre a população e este exército de assassinos é diariamente achincalhada em todos os núcleos de formadores de opinião, seja nas artes, educação ou na mídia escrita e televisiva. Segundo os grandes pensadores desta pátria varonil a maneira mais eficiente de reverter o quadro descrito é destruir a barreira, as Polícias Militares.

Um breve mergulho nas últimas décadas da produção cultural brasileira e notaremos uma “coincidência” peculiar, a massificação da imagem do marginal como herói em contraponto ao policial, corrupto, violento e injusto. Toda a construção dos personagens leva os consumidores destes produtos culturais a construção de um modelo inconsciente onde os papéis de mocinhos e bandidos estão sempre invertidos. Faça um resumo mental de todos os filmes, livros, peças de teatro, reportagens, novelas e documentários que você assistiu nos últimos anos. Perceba se um esquema parecido não se repete? O bandido vem de uma realidade dura, com uma história familiar de abusos e decepções, entra na vida do crime para sobreviver e é dotado de um apurado senso de justiça. Por outro lado os policiais são sempre cruéis e, dificilmente, as histórias mostram seus motivos internos ou histórias pessoais, a violência aparece sempre como característica natural destes personagens.

E o negócio vem de longe. Nas décadas de 70 e 80 do século passado o cinema nacional já trazia uma profusão de exemplos do esquema acima: O bandido da luz vermelha; Lúcio Flávio o passageiro da agonia; Pixote, a lei do mais fraco, entre outras pérolas do cinema nacional. Recentemente tive a oportunidade (ou o castigo) de assistir o filme que conta a história do sequestrador do ônibus 174, confesso que no final do filme já estava até com pena do pobre delinquente, usuário de drogas, assaltante e sequestrador. Mesmo nas novelas, principal produto de cultural da população brasileira, o esquema se repete a exaustão. Se por raro fato o policial da trama não é cruel, mesquinho e desonesto é sempre uma caricatura grotesca, para que mesmo na exceção a regra não seja abandonada.

Entretanto, o cidadão médio quando olha a realidade cotidiana não consegue ver, no mundo real, o que é lhe mostrado nos principais veículos de informação e entretenimento. A formação de seu modo de pensar e ver o mundo acaba em confronto direto com seu cotidiano. E as pessoas não sabem mais se acreditam no que estão vendo ou no que lhes dizem. Afinal, se apareceu no jornal, na novela, no rádio e nas revistas só pode ser verdade…

O poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal dizia que nada está no ambiente político de um país que não esteja primeiro em sua literatura. Talvez, por isso, estamos diante de leis inertes e de um sistema judicial fraco, onde o policial é visto sempre como agressor. Mesmo em ocorrências simples, onde profissional precisa usar a força para conter e algemar um cidadão, não é incomum que o policial venha a ter sérios problemas, seja na esfera administrativa ou criminal. Ocorrências de alta complexidade, onde há chance de alguma baixa, são uma garantia de dor de cabeça por vários anos para os comandantes das operações e seus subordinados. Muito antes da criminalização da polícia se tornar uma realidade institucionalizada, o conceito foi plantado nas mentes e corações da daqueles que viriam a se tornar as autoridades constituídas.

Para entendermos a fundo a situação cultural em que estamos mergulhados é fundamental saber a origem da ideologia por trás destes eventos. Nesse sentido dois teóricos, queridos da academia brasileira, revelam as fontes das inversões de valores que, por vezes, não conseguimos compreender. Assim, somos obrigados a conhecer os padroeiros da revolução cultural instalada no país, Santo Antônio Gramsci e São Helbert Marcuse.

Herbert Marcuse, é tal o mais popular dentre os pensadores da chamada Escola de Frankfurt, para ele o proletariado industrial já não servia como classe revolucionária, já que estavam amolecidos pelo conforto do capitalismo. É claro que não era o marxismo que estava errado, mas o cruel capitalismo que oferecia uma vida melhor aos trabalhadores desencorajando a revolução. Assim, para remendar sua teoria utópica, Marcuse buscou uma nova classe revolucionária. Esta nova classe não era definida não pela opressão econômica do capitalismo, mas por qualquer tipo de frustração psicológica. Define então três classes de revolucionários: os intelectuais e estudantes; os insatisfeitos – feministas, homossexuais, crianças rebeldes à autoridade paterna, entre outras minorias que vemos crescendo em representação; e os marginais, a classe que nos interessa em particular. Em vez de utilizar a força do proletariado industrial para enfraquecer o sistema, prostitutas, viciados, assassinos, assaltantes e estupradores são conclamados a lutar por um “mundo melhor”. Por isso a necessidade de glamorizarão da personalidade e das atividades praticadas por estes nobres companheiros.

Antônio Gramsci preconizou que a instauração da revolução em nações democráticas, e com algum grau de estabilidade, não poderia ser realizada pela força. Para ele é preciso infiltrar lenta e gradualmente a ideia revolucionária, de forma dissimulada, utilizando as vias pacífica e legal. Para isso os meios educacionais, artísticos, culturais e políticos são fundamentais para incutir na sociedade novos valores que serão a base para a destruição dos fundamentos tradicionais da sociedade, que emperram o processo revolucionário. Assim, atingi-se as duas vertentes que permitiriam a tomada do poder: a hegemonia (no campo do pensamento) e a ocupação de espaços.

A hegemonia é o que leva todo cidadão a mesma opinião sobre os mais diversos temas, como aborto, liberação de drogas, violência policial. E onde as qualquer opinião divergente é tratada de forma intolerante, agressiva ou indiferente. Ou seja, é o desenvolvimento de uma mentalidade uniforme em torno de determinadas questões, de modo que a população acredite e reproduza determinada ideologia, para que quando a revolução venha a curso não haja resistência.

Para combatermos o atual quadro de destruição da autoridade, dos valores tradicionais não basta boa vontade e coragem para a luta. Se não conhecermos as estratégias e o pensamento dos nossos opositores continuaremos atirando no escuro, em alvos imaginários ou no vazio. O resgate da imagem do policial como herói, como homem honrado, digno de confiança, depende de esforço intelectual de homens de bem, no estudo, no ensino e na divulgação da verdade.

E como estamos na época da Páscoa nunca é demais lembrar as palavras do Mestre:

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. – João 8:32

Fontes de pesquisa para o artigo:

http://www.emdireitabrasil.com.br/index.php/politica/457-a-estrategia-do-doutrinador-antonio-gramsci.html

http://www.olavodecarvalho.org/semana/091016dc.html

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