Por que esperamos por um herói?

Fato comum entre os brasileiros é a espera por um herói, vivemos uma espécie de crise messiânica, não importa qual seja o problema, alguém virá para nos salvar! Parecemos aquelas donzelas medievais em suas torres esperando por seus príncipes, em cavalos brancos, que viriam libertá-las de dragões e bruxas enquanto teciam bordados e cantavam canções de amor. O problema é que nossos príncipes tem se mostrados os verdadeiros dragões e enquanto cantamos nossos sambas apaixonados somos devorados vivos por nossos heróis.

Na política acreditamos em caçadores de marajás, operários humildes, intelectuais engajados ou qualquer outra personalidade que mostre alguma qualidade, ou pretensa qualidade, que o coloque acima da média. Mesmo uma característica de personalidade ou um traço de comportamento irrelevante para um administrador público, como ser torcedor de determinado time de futebol, pode se tornar um diferencial para levar um político a uma posição de liderança no nosso país. Contudo, dificilmente a preparação para o cargo, a experiência anterior, o caráter a firmeza nas decisões, aspectos que determinam a formação do homem são questionados. Vivemos na era dos heróis do nada, dos líderes do vácuo, homens sem conteúdo sustentados apenas por popularidade, fama, dinheiro ou uma combinação destas coisas.

Nas questões de segurança pública também sofremos deste mal, esperamos um herói que venha, como o Super-Homem ou o Batmam, resolver nosso problemas, colocar de uma vez por todas os criminosos na cadeia, destruir as quadrilhas, pegar os estupradores, destruir as máfias colocar de vez nossa casa em ordem. E aqui os heróis não são apenas homens mas, principalmente, teorias escandalosamente revolucionárias que, desta vez, vão resolver o problema.

Parece que o Brasil foi todo colonizado por sebastianistas e, ainda hoje, aguardamos a volta do rei milagroso que virá para estabelecer um reino de glorias para a nação, o herói divino, o messias. Mas este pensamento parece entranhado em nossa maneira de ver a realidade, não conseguimos estabelecer planejamentos de longo prazo com metas e execução ordinária e conexão entre os diversos segmentos da sociedade. Antes esperamos sempre pelo plano final, a teoria que vai nos tirar do buraco.

A cada ano uma nova panaceia surge como a solução o herói, o messias prometido. Pode ser a volta do policiamento “Cosme e Damião”, os Caveirões do Bope, a Ocupação de Comunidades, o Policiamento Comunitário, a Força Nacional, a Desmilitarização das PMs, a Unificação das Polícias, a PEC 51, a PEC 300 entre tantos outros “heróis” que irão, de revolucionar a segurança pública no país.

Mas após cada onda os heróis são derrotados e voltamos a dura realidade de um país entregue a mais de 50.000 homicídios por ano. Números tão vergonhosos que ninguém os traz a tona ao debate político no país. O que é odioso porque atualmente não existe questão mais relevante a ser tratada na nação do que a morte de tantos cidadãos em tempos de paz, e em um estado democrático de direito.

Se quisermos contornar essa situação monstruosa iniciativas isoladas, por melhores que sejam, não bastam. É fundamental um planejamento de longo prazo, com metas específicas e mensuráveis, que utilize técnicas eficientes, mesmo que impopulares. O trabalho será duro, levará tempo, o preço será alto, o processo será doloroso.

Ou então, podemos continuar esperando a volta de D. Sebastião….

Luiz Fernando Ramos Aguiar.

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