Redes Sociais e inteligência policial

Desde a popularização das redes sociais os policiais tem aproveitado seu potencial como ferramenta de coleta de dados e informações, uma ferramenta de inteligência policial. Este serviço é realizado de forma oficial, ou extraoficial, com resultados muitas vezes satisfatórios. Não é raro, policiais relatarem que conseguiram capturar fugitivos ou criminosos contumazes, de uma determinada região, utilizando o conhecimento construído através das redes sociais.

Os entusiastas das ferramentas sociais utilizam diversas técnicas para alcançar estes objetivos. Uma das mais comuns é a criação de perfis “fakes”, ou seja, personagens fictícios. Com estes perfis fantasmas os policiais interagem em comunidades e páginas que podem ser frequentadas por seus alvos. Como a aproximação direta pode levantar suspeita utiliza-se uma aproximação do alvo em vários passos, através de amigos de amigos. Dessa forma, quando o policial tem contato direto com o alvo já possui um perfil com vários seguidores ou amigos de relacionamento comum com o alvo. Assim pode-se passar a uma interação direta sem que se levante suspeitas. Esta é basicamente a técnica mais usada de aproximação de alvos pelas redes sociais.

A técnica descrita acima funciona, principalmente, pela série de vulnerabilidades existentes nas contas dos alvos que, involuntariamente, acabam por abrir uma série de brechas para aproximação. Por exemplo, é comum que estes alvos tenham o costume de ostentar seus feitos, como troféus. Também compartilham fotos, informações e dados de forma pública, buscando o reconhecimento dentro da rede e possibilitando a coleta destas informações, que são usadas para realizar a aproximação. Estes usuários também tem o hábito de aceitar novos “amigos” de forma indiscriminada, principalmente, se os pedidos vêm de amigos de amigos. Ou seja, todas as portas,  geralmente, são abertas pelo próprio alvo.

O problema é que toda ferramenta de inteligência também pode ser utilizada na contra-inteligência. E os policiais se esquecem que também podem se tornar alvos. Da mesma forma que um policial tenta fazer o acompanhamento de um marginal que prendeu, o marginal pode ter a mesma ideia em tentar localizar aquele que “derrubou sua casa”. Neste caso, os marginais, ainda tem uma vantagem sobre os policiais, em caso de flagrante delito ou de um processo constituído o marginal acaba tendo acesso aos dados reais dos policiais, como, por exemplo, nome completo. Informações que, muitas vezes, o policial não possui sobre o preso que, autuado com alguma alcunha, acaba sendo identificado apenas posteriormente.

Por isso, é fundamental que o policial que utiliza as redes sociais, como ferramenta de trabalho ou não, se cerque de alguns cuidados que o protejam. Neste sentido seguem algumas dicas:

  1. Evite compartilhar imagens que denunciem sua condição profissional, fotos de farda ou no quartel onde você trabalha, denunciam sua localização e podem revelar o período que de sua escala de serviço;
  2. Separe conhecidos de amigos reais, só compartilhe informações sobre sua profissão e família com pessoas que você realmente conhece;
  3. Divulgação pública de conexões como esposa, filhos, sobrinhos ou colegas de trabalho abrem diversas brechas de aproximação;
  4. Verifique as contas de seus familiares, muitas vezes as informações sensíveis são disponibilizadas, de forma ingênua, pelos filhos ou parentes de policiais;
  5. Verifique todas as suas configurações de segurança e publicação, e configure suas informações profissionais como privadas ou visíveis apenas para grupos determinados de pessoas que você confia;
  6. Algumas configurações podem estar visíveis a amigos de amigos, corrija;
  7. Se o seu perfil o identifica como policial procure evitar aparecer em fotos com parentes e amigos, que podem se tornar alvos em potencial. Ou no mínimo não deixe estas imagens de forma pública;
  8. Só aceite como amigos pessoas que você realmente conhece;
  9. Lembre-se tudo que você posta de forma pública ficará fora de controle, não é possível prever onde a informação irá chegar;
  10. Não divulgue informações sobre a sua localização e atividades em tempo real, se as pessoas sabem onde você está, também sabem onde você não está.

Se as redes sociais podem ser um grande aliado no serviço policial também podem se traduzir em uma grave vulnerabilidade para os profissionais de segurança. Mas,  para que tenhamos mais benefícios do que perigos basta que tomemos alguns cuidados básicos, tenhamos bom senso e nos lembremos que a utilização destas ferramentas como armas pode ser uma via de mão dupla.

Luiz Fernando Ramos Aguiar.

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