Caroline Plescht e a morte da democracia

A morte dela não comoveu nenhum artista engajado. Não houve reportagens emocionantes e nenhum político tentou subir em seu caixão para fazer discurso. As ongs não se mobilizaram e nenhum representante dos Direitos Humanos procurou seus familiares e não se ouviu falar em passeatas, manifestações ou protestos por sua morte. Aliás, ninguém citou seu juramento, seu compromisso ou mesmo as horas de dedicação a pessoas que sequer conhecia, mesmo que isso algumas vezes tenha colocado em risco sua vida.

Para o pessoal do beautifull people, que orienta, comanda e financia os veículos do mainstream a existência de mulheres como ela não passa de um incômodo e sua execução um fato a ser solenemente ignorado. Afinal ela não será a mártir do aborto, da causa LGBT, dos favelados e dos oprimidos em geral. Para eles mulheres como ela são a prova de que suas teorias, lendas e discursos são elementos de uma narrativa artificial, construída com o fim de dividir as pessoas colocando em lados opostos os mais fraternos irmãos. Tudo em nome da utopia, do futuro, do progresso, do salto adiante, para o desconhecido paraíso na Terra.

Ela representa tudo que odeiam, o bem, o belo, a honra, a verdade e a justiça. Sua farda é uma ofensa aos olhos daqueles que lutam pelo fim de tudo que levamos séculos para construir, e que custou o sangue, o suor e as lágrimas dos que vieram antes de nós. Sua presença é a lembrança que não cairemos sem resistir. Seu sacrifício a certeza de que existem homens e mulheres que dedicarão tudo que são e o que tem para impedir o avanço da doença que os engenheiros sociais propagam, tentando por fim aos valores que nos são mais caros.

Na verdade os únicos que derramaram lágrimas em seu enterro foram seus companheiros de farda, sua família e seus amigos. Sob o toque frio da corneta seus companheiros de farda cogitaram um final semelhante, a execução pelo crime de ser policial militar. Seus familiares, incrédulos, levaram para casa uma bandeira dobrada e um leve zumbido nos ouvidos, decorrentes das salvas de tiros, que não os deixam esquecer o motivo da morte da filha, da mãe, da irmã. Os amigos, que sempre nos perguntam se não é perigoso ser policial, tiveram a certeza de que a profissão pode ser uma sentença de morte. Em momentos como este nossa fé é testada e a pergunta inevitável é: vale a pena?

Amanhã os policiais militares amigos de Caroline Plescht se levantarão, vestirão suas fardas e, mesmo diante de toda a tristeza e dúvida, irão às ruas cumprir seu dever. Suas famílias não podem esperar que constituam nova profissão. O juramento que fizeram não permite a dúvida. E as pessoas da comunidade onde servem continuarão precisando da proteção que eles provêm. Assim, eles estarão nas ruas, com os corações quebrados, com os olhos marejados, alguns sem esperança mas, ainda assim, a missão não será abandonada. Aprendemos que nossos sentimentos e problemas pessoais não podem nos impedir, que ao vestir a farda temos o dever legal, moral e ético de servir e proteger. E outra pergunta inevitável: Até quando nossos policiais aguentarão este massacre?

Na Páscoa lembramos o sacrifício de Cristo, que deixou-se crucificar para receber o castigo que era da humanidade. Seu exemplo é um norte para o desempenho da carreira policial. A fé uma coluna para resistir nos momentos de tristeza, dor e abandono. Que o espírito do nosso senhor possa trazer consolo aos entes queridos de Caroline Plescht, que a dor da perda se transforme na esperança da vida eterna e da ressurreição no último dia. Pedimos ao Senhor que receba Caroline Plescht em sua morada eterna. Que os anjos possam guardá-la, assim como ela guardava a vida de pessoas que sequer conhecia e, provavelmente, algumas delas desprezavam sua fé e seu trabalho.

A morte de Caroline Plescht não será a última execução covarde de um policial este ano. Infelizmente centenas de policiais terão suas vidas ceifadas, pelo simples fato de exercerem sua profissão. Eles não receberão homenagens, reportagens, discursos progressistas ou manifestações populares. Serão sacrificados no anonimato, sem receber a honra e reconhecimento que lhes cabe, e que receberiam caso habitassem em qualquer país civilizado. Contudo, a morte destes homens e mulheres não ficará impune para sempre, existirá um momento em que a situação poderá se tornar inaceitável. Todo homem tem um limite e é preciso parar este genocídio antes que cheguemos a um ponto inflexão, onde a ordem social poderá ser rompida.

Hoje os mais de 500.000 policiais militares, dispersos pelo território nacional, são a última barreira entre a sociedade e o crime. Não existe nenhuma força estatal que esteja presente de forma tão capilarizada e efetiva em todo o território nacional. As polícias militares são a única força de segurança, hierarquizada e organizada, que, através de sua ação rotineira no controle do crime, no enfrentamento do caos e na manutenção da ordem pública mantém de pé a frágil democracia brasileira. A desestruturação e enfraquecimento das polícias militares é o golpe mais certeiro para implementação de um Estado totalitário e o massacre de nossos policiais, seja pela negligência das autoridades ou pelo crescimento do crime a tática para alcançar este objetivo.

A morte da Soldado Caroline Plescht , de joelhos diante de seus executores, ao lado de seu marido, o Sargento Marcos Paulo da Cruz, é uma metáfora de como nossas corporações se encontram diante dos criminosos que deveriam combater, impotentes e indefesas. O compromisso teimoso e obsessivo de nossos policiais em continuar na luta é última esperança da população. E enquanto as “lideranças” malditas pedem o fim da polícia militar, os policiais as protegem de acordo com seu juramento. Ou seja, mesmo com o risco da própria vida.

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