NOVA FÁBRICA BRASILEIRA DE SUBMETRALHADORAS?

Por: Russo Mike

Apesar de ter no Brasil duas grandes empresas de armas de fogo bem estabelecidas desde a década de 70, a Estatal IMBEL e a privada Taurus, os projetistas de maior expressão eram independentes, sendo o mais importante Olympio Vieira de Mello Filho, que criou a sub metralhadora mekanika uru, e Nelmo Suzano, que criou o projeto do exótico fuzil bullpup LAPA FA-03.

Mekanika URU
LAPA FA-03

A URU chegou tarde para era das Submetralhadoras operadas com ferrolho aberto, mas maior investimento e desenvolvimento poderia ter gerado um projeto interessante de carabina em calibre de pistola com ferrolho trancado de baixo custo e fácil fabricação, que se tornaram tão comuns para o uso policial e no mercado civil americano nas décadas seguintes. Já o LAPA chegou cedo demais para realidade do nosso país, apesar do 5.56 estar se tornando a munição padrão da OTAN, havia pouco tempo que a estatal brasileira IMBEL produzia localmente sob licença o FN FAL para as forças armadas, enquanto a qualidade do polímero usado amplamente no LAPA até hoje é de baixa qualidade na indústria de armas de nosso país. Ambas também chegaram num momento delicado da política nacional, especialmente relacionada as armas, com profundos cortes de orçamento nas forças armadas e policiais, além do início de uma grande perseguição política as forças de segurança e indústria de armamentos, o que sacramentou o destino dos projetos independentes, tendo apenas a IMBEL e Taurus sobrevivido a esse período sombrio.

Qualidade do polímero da Taurus na década de 2010

Polímero do Fuzil IMBEL iA2 apresentando problemas em teste de resistência do BINFAE da FAB, década de 2010.

Nas décadas seguintes a Estatal IMBEL iniciou o desenvolvimento de fuzis em calibre 5.56 adaptados a armação e caixa da culatra do FAL: MD2, uma adaptação para o calibre menor apenas, o MD97 uma modificação com novo ferrolho e pistão, e o iA2 sendo uma modernização com adição polímeros, que apresentaram vários problemas; e também trabalhou no desenvolvimento de protótipos de Submetralhadoras baseadas na armação do FAL, mas não chegaram a ser comercializadas.

Projeto de Submetralhadora da IMBEL nos anos 90
Projeto de Submetralhadora da IMBEL com peças em comum com fuzil iA2, adaptado para usar carregadores de pistola IMBEL, mas que não foi produzida.

A Taurus depois de produzir cópias da pistola Beretta 92 e da Submetralhadora Beretta M12, iniciou o desenvolvimento de projetos próprios de pistola, como a PT24/7 que logo apresentaram problemas, e fez as carabinas CT30 no calibre .30M1 em parceria com a chilena FAMAE, que também apresentou defeitos e foi rapidamente tiradas de serviço. Logo a Taurus iniciou o desenvolvimento de a nova Submetralhadora, a SMT, que também apresentou problemas, tendo feito uma versão carabina em calibre de pistola dela, a CTT, com um pouco mais de sucesso, apesar de várias limitações de qualidade e ergonomia, as quais a Taurus pretende amenizar numa nova versão dela, com algumas modificações como uma adaptação estética bizarra para reduzir o grande guarda mato, por exemplo.

Taurus/FAMAE CT30
Submetralhadora Taurus SMT apresentando problemas.

Nova versão da Taurus SMT/CTT

Durante os últimos 30 anos a criminalidade tomou conta do país, e a demanda por armas ilegais ficou tão grande que várias pequenas fábricas ilegais de armas artesanais surgiram no país, ironicamente fazendo cópias principalmente do projeto extremamente simples da Submetralhadora nacional Mekanika URU, mas também de outras armas como Mini uzi, MAC 10, TEC 9; chegando ao ponto de 48% das Submetralhadoras apreendidas no país serem de fabricação artesanal.

Fábrica artesanal clandestina de cópias da Submetralhadora nacional Mekanika URU.
Cópia artesanal da URU
várias cópias da URU apreendidas pela polícia no Brasil
Cópias modificadas da URU também apareceram em grandes quantidades no país.
Uma adaptação exótica da URU com carregador de Glock, mostra evolução da indústria de armas artesanais no país.
Em cima um cópia da mini uzi, em baixo uma cópia da MAC 10.
Fábrica artesanal clandestina de cópias da Submetralhadora TEC 9.
No detalhe a cópia artesanal da TEC 9.

Essa indústria de Submetralhadoras artesanais ilegais evoluiu tanto que foi identificado um novo modelo nacional, com design próprio e acabamento aperfeiçoado em relação as armas grosseiras feitas até então. Essa nova arma já está sendo fabricada em escala, embora a nomenclatura ainda não tenha sido identificada, nem o fabricante localizado, vamos chamá-la de “Brazuca”.

A Submetralhadora Brazuca difere de outros modelos artesanais, não só pelo acabamento mais moderno e bem feito, mas pela própria estrutura de construção, tanto da caixa da culatra quanto da armação. Várias delas apreendidas mostraram uma evolução no desenvolvimento do receptáculo do carregador, mas a caixa da culatra permaneceu basicamente a mesma.

As Brazuca mais recentes apreendidas mostraram a preocupação com o acabamento, com detalhes que imitam fibra de carbono, além de trilhos picatinny para acessórios táticos.

Lembra ligeiramente as SMG/PCC B&T APC 9, Tem uma caixa da culatra (upper receiver) inteiriça que parece ser usinada, e a armação lembra o lower receiver da família AR-15, muito comum nas modernas Submetralhadoras e carabinas em calibre de pistola. Em diferentes modelos apreendidos aparece a evolução no desenvolvimento da armação para uso de carregadores tipo Glock, com uso de um receptáculo mais largo estilo AR em algumas, em outras uma adaptação mais grosseira em ângulo bem justa no design do carregador, até os últimos modelos apreendidos em maior quantidade, com acabamento mais fluído.

evolução do desenvolvimento da armação/lower.

Coronha de Airsoft RAP4 UMP usada em todas as Submetralhadoras apreendidas.

Parece ter um mecanismo de ferrolho blowback, mas não é possível saber se opera aberto ou fechado, tendo a janela de ejeção estranhamente do lado esquerdo da caixa da culatra, com a alavanca de manejo logo acima dela, em uma lacuna separada da janela de ejeção. A Brazuca segue a tendência mundial das SMG/PCC de usar carregadores de pistola Glock, o que facilita a aquisição e o intercâmbio durante o uso rotineiro coma as pistolas. Usa uma empunhadura de AR-15 e uma coronha de armas de Airsoft, mais especificamente o modelo “RAP4 UMP buttstock”, ítens que normalmente danificam mais frequentemente em armas de fogo e a facilidade de reposição foi uma boa sacada do projetista. A maioria tem um cano simples, sem quebra chamas, apesar de uma arma apreendida ter um pequeno quebra chamas, o qual não é possível precisar a eficiência. Não parece haver chave seletora de tiro, apenas um pequeno botão de trava logo acima do gatilho. Melhorias podem aparecer no futuro, com a popularização de armação feitas em impressora 3D, por exemplo.

Nas fotos acima diferentes modelos da “Brazuca” apreendidas em vários estados, principalmente no Rio grande do Sul e santa Catarina.

Lamentavelmente despediçamos o potencial de nosso povo em desenvolver e empreender, com leis restritivas e altos impostos para favorecer monopólios e inibir a livre concorrência, da URU a Brazuca, quem acabou se favorecendo foi o crime organizado que não se importa com leis e muitas vezes parecem até mesmo serem favorecidos ou protegidos pelo Estado, e quem sabe o que ainda pode vir por aí nas mãos da criminalidade?

Nas fotos acima a evolu dos fuzis artesanais apreendidos no Brasil nas últimas decadas. São poucos, e com mecanismo de ferrolho aberto pouco eficiente, mas quanto tempo levará para aperfeiçoar algo que é feito a décadas:
Fuzil Stoner M8 – X1, a origem do ícone AR-15, em toda sua simplicidade de fundo de quintal.

Russo Mike.

Leia esse artigo em inglês:

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