Racismo algorítmico: Tecnologias de reconhecimento facial se tornam um pesadelo para pessoas negras

POR: Renan Nunes

FONTE: MONEY TIMES

Às vésperas do Natal, Benjamin utilizava o aplicativo de um banco quando recebeu a solicitação para cadastrar sua biometria facial. Com o rosto sem adereços ou óculos, e com uma boa iluminação, o sistema de reconhecimento facial do aplicativo não conseguia o identificar.

Após algumas tentativas, de vários ângulos e com diferentes iluminações, o usuário resolveu testar o sistema com uma foto aleatória da internet. Quase que instantaneamente, sua câmera o reconheceu. Benjamin é negro. O homem da foto, branco.

O relato que foi feito através do TikTok por um usuário ganhou repercussão nas redes sociais após retomar as discussões sobre como algoritmos de reconhecimento facial e outras tecnologias podem ser racistas e excludentes com homens e mulheres negros.

https://www.tiktok.com/embed/v2/7045306381703924998?lang=pt-BR

C6 Bank – instituição financeira na qual Benjamin não conseguiu concluir a etapa de segurança – divulgou em nota oficial que “o índice de falhas em biometria facial no processo de abertura de contas é de 0,1%, sem nenhuma diferença estatística por cor, idade ou gênero”. A empresa também destacou que “trabalha continuamente para aumentar a acuracidade da ferramenta de reconhecimento facial”.

Ao ser questionada se seus sistemas também foram testados com usuários negros, a instituição não se pronunciou.

Tecnologias de inteligência artificial como a utilizada por bancos em verificações de segurança também são encontradas em aplicativos de fotos, mídias sociais e até mesmo sistemas de segurança pública. Os algoritmos utilizados nessas ferramentas, por sua vez, comprovam-se bem falhos.

Segundo pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança, em 2019, cerca de 90,5% dos presos por monitoramento facial no Brasil foram negros. Em muitos casos, as prisões arbitrárias alcançam os alvos errados, causando constrangimento aos acusados.

E não acaba por aí.

Fotos publicadas por pessoas negras na plataforma Flickr receberam a tag “macacos” pelo algoritmo do site; já o Twitter reconheceu que sua programação faz com que conteúdos de pessoas brancas viralizem com mais frequência; o aplicativo da Uber, por sua vez, bloqueou a conta de um motorista negro após não conseguir reconhecê-lo através de seu sistema.

Benjamin foi contatado pelo Money Times para comentar sobre o assunto, mas não respondeu aos pedidos da reportagem. De qualquer forma, pelo visto, seu episódio não se parece com um caso isolado, mas com um problema longe de ser solucionado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.