São José de Anchieta: o Padre Pio do Brasil

Sempre que buscamos estudar a vida dos Santos para nos espelhar e buscar, de maneira mais humana e próxima, de alguma forma, a santidade, por vezes nos deparamos com grandes surpresas.

Homens e mulheres que viveram e morreram em tamanha amizade com Deus que, pela Graça e Misericórdia Divina, eram capazes de realizar grandes milagres e portentos, que por vezes deixaram estupefato até o mais cético dos céticos.

Alguns desses santos são relativamente bem conhecidos e estudados, seja pela proximidade temporal em que viveram, seja pela vasta literatura e obras culturais que buscam fazer a leitura da sua vida e apostolado. Um exemplo fácil de nomear é de São Pio de Pietrelcina, frade franciscano italiano que viveu e morreu em pleno século XX, o que nos permitiu ter acesso a fotos, filmes e escritos dele em uma quantidade sem precedentes.

São Pio de Pietrelcina: um santo dos tempos atuais.

Contudo, justamente em contraponto de tudo que foi apontado como facilitador na vida de São Pio (facilitador no sentido de se chegar aos fiéis o máximo de informações possíveis sobre ele e seus milagres) ocorre em oposto a um grande taumaturgo brasileiro, de tão grande santidade e operador de milagres tão portentosos quanto: São José de Anchieta, também chamado de “O Apóstolo do Brasil.”

São José de Anchieta: O Apóstolo do Brasil.

Obviamente que a vida de tão grande e importante santo, tanto para a história do Brasil quanto para a história da salvação e conversão das almas, não seria possível esgotar neste artigo, pois como é sabido a sua vida e obra preenchem vários livros de muitos volumes.

O que pretendo buscar nessas linhas é chamar atenção dos cristãos do Século XXI, que assim como eu, praticamente desconheciam a história deste grande sacerdote do Deus Altíssimo e que é responsável por uma parte importante da nossa história como povo e civilização.

Todos os casos de milagres relatados neste foram retirados do Livro São José de Anchieta o Apóstolo do Brasil de Charles Saint Foy, da Editora Petrus.

Tanto no caso de São Pio quanto no de São José de Anchieta podemos perceber o quão maravilhoso o Dom de Deus pôde agir por meio dos seus santos sacerdotes. Bilocações, leitura das intenções e pecados das pessoas, curas de terríveis doenças, capacidade de saber se pessoas distantes milhares de quilômetros estavam vivos, capacidade de conversão de empedernidos, capacidade de voar, de levitar, de ter conhecimentos infusos sobre a natureza humana e da criação e, por fim mas não menos importante, o dom da ressurreição dos mortos.

Todos esses milagres em comum com os dois santos revelam como que a santidade humana, que não deixa de ser um Dom de Deus porém, deve ser buscado e lutado por todos os meios e que, quando alcançado, permite que Deus use o ser humano para ações e manifestações divinas portentosas.

São José de Anchieta era um profundo devoto de Nossa Senhora a quem dedicou os mais longos poemas já escritos.

Na história da salvação podemos citar, dentre inúmeros outros, os casos dos milagres operados por Moisés e por São Pedro depois do Pentecostes. Chegou-se ao ponto da sombra de São Pedro curar os doentes e de Moisés colocar de joelhos o Faraó do reino mais poderoso da terra em sua época, o Egito, por ocasião das sete terríveis pragas que praticamente destruíram o país e obrigaram Ramsés II a libertar o povo hebreu.

Seguindo a linha da história da salvação podemos notar que a Graça Divina nunca deixou os homens santos que eram segundo o Seu Coração. A história da Igreja é seguida, de maneira ininterrupta, até os anos 60 com santos que realizam portentos tão poderosos quanto os dos tempos apostólicos. Por isso é de se estranhar que hoje sublinhar os milagres operados por esses santos homens chame tanta atenção, por vezes negativa, inclusive de quem se diz cristão convicto.

Quanto aos milagres e dons que os dois santos tinham diferentes entre si podemos citar os estigmas de São Pio, que o acompanharam por 50 anos e a capacidade de São José de Anchieta de subjugar os elementos da natureza, tanto do clima quanto dos animais selvagens.

Trazendo o olhar para o Santo Brasileiro temos que ter em mente que era um homem comum, que tinha nascido nas Ilhas Canárias Espanholas, com um grave defeito físico na coluna devido a um acidente, feito seminarista na Companhia de Jesus e que ao chegar ao Brasil se tornou discípulo de outro grande sacerdote santo, Padre Manuel da Nóbrega. Ele, ainda no ano de 1553, com apenas 19 anos, fundou o Colégio de São Paulo onde hoje é o marco zero da cidade e do estado com o mesmo nome e com isso iniciou o processo de catequização dos índios brasileiros fundindo as raças que formariam a civilização brasileira.

Com a sua chegada a uma terra tão diferente da sua Europa natal ele pôde experimentar todas as agruras dos primeiros portugueses que iniciavam a formação de vilas e povoados em uma terra tão inóspita quanto hostil, com um clima recheado de tempestades tropicais, animais ferozes, serpentes venenosas (à época a fama era que o Brasil era lugar com a maior quantidade de cobras venenosas e violentas do mundo), além é claro, dos índios de inúmeras etnias e nações que brigavam entre si e que eram bárbaros ainda em estágio da pedra lascada. Grande foi o horror dos portugueses ao terem contato com povos que comiam carne humana em seus rutuais bestiais diabólicos.

O canibalismo era uma prática comum em diversas tribos no tempo do Brasil colônia. Prática bestial que só foi erradicada pelo trabalho heroico dos Padres e missionários jesuítas.

Em meio a tantas dificuldades, além do fato de estarem a milhares de quilômetros de distância de sua pátria natal, que somente era alcançável por caravelas movidas a vento, os primeiros portugueses radicados no Brasil careciam de tudo, principalmente dos cuidados espirituais, como a Santa Missa e os Santos Sacramentos devido a escassez de sacerdotes. Com isso não era incomum que a vida dos colonos se deteriorasse moralmente até o ponto de alguns se juntarem aos selvagens vivendo os seus maus costumes e vícios. Por isso era imperiosa a missão que Santo Inácio de Loiola ungiu aos seus Padres Jesuítas: trazer a fé ao Brasil, a Terra de Veracruz.

No começo São José de Anchieta se via assoberbado, juntamente com Padre Manuel da Nóbrega, com a fundação de vilas e povoados, assistência religiosa aos colonos, construção de colégios e capelas e, o mais importante, a conversão dos povos pagãos da terra a fé de Cristo. Com muito trabalho e caridade essa última missão foi rendendo frutos imensos, chegando ao ponto de várias aldeias serem refundadas católicas por índios nas proximidades das vilas portuguesas de colonos o que, com o tempo, e com a convivência nas festas sagradas, missas e das crianças juntas nas escolas, forjou o povo brasileiro atual.

As dificuldades de conversão dos índios eram muitas, dentre elas os pajés e feiticeiros das tribos que se opunham de maneira feroz a chegada dos evangelizadores. Por isso os milagres foram ação fundamental por meio de São José de Anchieta, para aproximar os índios e demonstrar de maneira definitiva qual era o verdadeiro Deus e juiz da humanidade: Jesus Cristo.

Assim como o Milagre de Nossa Senhora de Guadalupe no México converteu milhões de índios maias a verdadeira fé os milagres operados por São José de Anchieta e de tantos outros padres santos do início do Brasil, foram fundamentais para a mudança de cosmovisão desses povos tão acostumados a violência e aos mais baixos vícios.

Dentre os inumeráveis milagres operados por São José de Anchieta que maravilharam os índios e os portugueses podemos citar: a sua capacidade de subjugar pela palavra cobras, onças, pássaros e animais selvagens. Além de por vezes, por seu comando de voz, peixes virem para a beira-mar para serem pescados ou de pássaros sobrevoarem a sua canoa fazendo sombra no santo e nos seus companheiros de viagem.

Famosa é passagem onde São José de Anchieta caiu de uma canoa durante uma corredeira forte de rio, juntamente com todos da sua comitiva. Sendo encontrado, depois de dado como morto afogado, por um índio rezando o breviario no fundo do rio como se nada tivesse acontecido.

Era comum que o santo conseguisse viajar centenas de quilômetros entre as cidades de São Vicente e São Paulo em poucas horas ou instantaneamente.

Muitos chegaram a vê-lo levintando a considerável altura durante os êxtases em que era arrebatado durante as Missas que rezava.

Tinha o dom de curar doenças graves, picadas de cobras, defeitos de nascença, de perscrutar os corações e descobrir más intenções além de saber pecados que a pessoa jamais contara a ninguém.

Famoso foi o fato de ter abençoado um poço de água salobra e amarga de uma vila que imediatamente se tornou doce e potável e que com o tempo percebeu-se ser milagrosa e potente na cura de doenças.

A sua voz também o clima parecia obedecer, sendo que por várias vezes ordenou que não chovesse ou que a tempestade parasse e isso se realizava imediatamente.

Além dos milagres ativos ele também manteve-se casto e puro mesmo durante períodos em que ficou cativo em aldeias onde lhe eram enviadas índias para lhe tentar. A sua castidade era angélica e de grande força de conversão aos nativos, tão subjugados pelo vício da luxúria sem limites.

A sua capacidade intelectual e de memória era surpreendentes pois durante um período decidiu compor versos, em latim, em homenagem a Nossa Senhora, escrevendo-os com uma vareta nas areias das praias do litoral brasileiro. Depois os memorizou e os transcreveu, palavra por palavra, para o papel, onde foram depois publicados. São os versos mais longos e belos já compostos em homenagem a Santa Mãe de Deus.

Possuía uma grande capacidade de ler os corações dos homens chegando ao ponto de parar um homem no meio da rua que ia com a intenção secreta de assassinar uma pessoa. Depois de adverti-lo o mesmo se arrependeu e se converteu em um bom cristão.

Tinha a capacidade de estar em dois locais ao mesmo tempo, milagre chamado bilocação, devidamente atestados e provados à época das primeiras investigações de santidade poucos anos após a sua morte.

Soube de maneira milagrosa o exato momento em que os 40 jovens sacerdotes Jesuítas que estavam em viagem ao Brasil para ajudar na evangelização tiveram seu navio interceptado por corsários protestantes que ao descobrirem os padres católicos na embarcação os intimaram a renunciar a fé católica ou morrer. Os 40 padres e frades decidiram pelo martírio e foram apunhalados um a um e lançados, ainda vivos ao mar. Além do Padre Anchieta o Padre Ignácio, um dos sacerdotes que sofreria o martírio, também teve uma visão, ao rezar a sua última Missa em terra em uma escala da viagem em Tazacorte. Durante a visão ele mordeu com tanta força o cálice do Sangue de Cristo que ficaram marcados os dentes dele no cálice, que pode ser visto até hoje na Paróquia São Miguel Arcanjo em Tazacorte, Espanha.

Foto do cálice da última Missa rezada pelo martír do Brasil Padre Ignácio.

Por fim, citemos o grande milagre da ressurreição do Índio Diego, que era um Índio civilizado de grande valor moral e que viveu sempre ajudando os Padres e servindo a Missa e cumprindo missões, contudo, por um desleixo, não foi batizado e nessa condição veio a falecer. Durante o velório ele se levantou e pediu que chamassem o Padre Anchieta para batizá-lo. Com grande espanto e depois de certa hesitação chamaram o Santo do Brasil, que já sabendo do ocorrido, chegou ao local e depois de batizado o índio o mesmo veio a falecer novamente sendo enterrado com grande comoção.

Com essas breves linhas espero poder ter chamado atenção do nosso povo brasileiro para um dos maiores personagens históricos da nossa história e que é tão pouco conhecido e louvado, mesmo entre católicos, sendo de grande dificuldade, até hoje, ter acesso a material de qualidade sobre a sua vida e apostolado. Espero que em breve surjam filmes, documentários (aqui cito o excelente documentário feito em homenagem a São José de Anchieta pelo APP de streaming LUMINE) e obras intelectuais que possam, de maneira contundente, como ocorre com o grande Padre Pio de Pietrelcina, fazer chegar a sua mensagem e os seus feitos ao máximo de pessoas possíveis, pois a vida dos santos sempre será um farol para homem em meio as turbulências da vida nesse mundo.

Olavo Mendonça.

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