TIRO DE COMBATE

O tiro em estande, treinamento contra alvos, serve para adestrar os fundamentos básico do tiro, os tornando movimentos de reflexo, e quando em situações de estresse físico e psicológico do combate, a reação motora vai extrair o melhor possível desses fundamentos, facilitando o enquadramento do alvo e o disparo mais preciso possível.

Entretanto, isso frequentemente confunde as pessoas que nunca estiveram em combate real, sobre como realmente ocorre o tiro em combate e a eficiência real da precisão dele, causando a “Síndrome do Sniper”.

Para entender o emprego do tiro em combate, é preciso compreender a dinâmica do combate, que é baseado em ações de manobras táticas, para alcançar objetivos específicos. Então a habilidade e o desempenho individual apenas contribuem para o resultado, mas não são o elemento fundamental da manobra, onde uma força com habilidades individuais inferiores pode ser bem sucedida, quando empregando uma tática de manobra mais eficiente, mesmo contra um inimigo com melhores habilidades individuais, mas limitado de empregar suas táticas pelas circunstâncias, como numa emboscada ou em desvantagem numérica/poder de fogo, por exemplo.

A manobra torna o combate dinâmico e os combatentes de ambos os lados, geralmente procuram estar abrigados da visão do inimigo, ou em deslocamentos rápidos em distâncias curtas, conhecidos como “Lanço”, evitando ao máximo se expor, além de frequentemente estarem equipados com capacetes e coletes balísticos, o que reduz a probabilidade de sofrer ferimentos em áreas incapacitantes, de modo que o tiro contra alvos específicos, se torna extremamente difícil de realizar com precisão e/ou eficiência, por atiradores comuns.

A principal técnica de tiro para uma manobra tática é a Supressão de Fogo(suppressive fire), que consiste em em realizar disparos contra a posição, atual ou iminente, do inimigo, com volume necessário de tiros para forçar o inimigo cessar seus disparos e se abrigar, permitindo que avance ou recue, usando diferentes táticas, como fogo em movimento (fire and movement), cascata(center peel), entre outros. Complementar ao tiro contra posições, existem as técnicas de tiro contra alvos específicos, de oportunidade, que são: Tiro de Acompanhamento, Tiro Instintivo e Tiro de Precisão.

Tiro de Acompanhamento, ocorre quando o atirador está em uma posição instável (em pé, em torre ou deitado sem apoio para arma), e ao observar um inimigo a relativa distância, exposto por um breve período, geralmente em movimento, enquadra a visada rapidamente nele, realizando disparos seguidos contra ele, corrigindo a direção de acordo com o recuo da arma e o deslocamento do alvo, até acertar e conseguir incapacita-lo. Os EUA, posteriormente a URSS e mais tardiamente a China, com os estudos SCHV(small caliber high velocity), chegaram a conclusão de que, quanto maior o recuo do disparo, como de calibres com maior energia, mais munições são gastas para atingir e incapacitar um alvo em movimento. A cerca de 200 metros, com a munição 5.56x45mm tendo 5,15 joules de energia de recuo, um soldado comum gasta em média 20 disparos por alvo abatido, já com o 7.62x51mm, que tem 17 Joules de recuo, gasta em média 34 disparos para abater um alvo nas mesmas condições. É importante lembrar ainda que as munições de maior energia, geralmente têm maior peso e volume, assim como a arma e carregador para usá-la, o que também resulta em menos munições que o atirador pode transportar e ter disponível em pronto emprego no carregador da arma.

Tiro instintivo ocorre quando o atirador realiza um assalto contra uma posição inimiga, ou o inimigo invade a sua, ou ainda em progressão em áreas urbanas, e o combate se torna aproximado ou em ambientes confinados(CQB-Close Quarter Battle). É necessário uma reação rápida e não permite um enquadramento adequado do alvo, geralmente sendo empregado a técnica de tiros consecutivos, como Double tap (toque duplo) ou rajadas curtas dependendo da arma e das circunstâncias, buscando parar o inimigo rapidamente, mesmo que esteja usando proteção balística corporal, já que com mais disparos relativamente agrupados aumenta a probabilidade de atingir mais membros/órgãos do corpo. O FBI(Policia Federal Americana) concluiu recentemente, que a capacidade de acertar mais tiros, mais rapidamente, num alvo, aumenta a probabilidade de incapacitar o inimigo, em comparação com a doutrina de maior energia/densidade para obter “poder de parada”, que resulta em maior recuo da arma, reduzindo a capacidade de agrupamento de tiros rápidos no alvo.
Tiro de precisão é geralmente realizado por atiradores de elite (caçador/sniper), com treinamento rigoroso e constante, que atuam em grupos de apoio a manobra, e ocasionalmente por atiradores designados(Designated Marksman). É empregado apenas em situações específicas para contribuir com a manobra tática, já que esse atirador precisa estar em uma posição estável e relativamente protegida/oculta, de preferência com a arma estabilizada, tendo ainda que evitar expor sua posição, sob o risco de se tornar um alvo prioritário para o inimigo, diante da ameaça que representa, especialmente contra a capacidade de manobrar do inimigo, já que os atiradores de elite visam principalmente os comandantes inimigos ou combatentes inimigos responsáveis pela supressão, como operadores de metralhadoras ou outros atiradores de elite.

O alcance de combate também é um fator importante a se levar em consideração, visto que o tiro de 7.62x51mm a 350m tem uma queda de 64cm e uma curva de vento comum de 31cm, levando 0,5 segundos para percorrer essa distância, um alvo em movimento pode se deslocar entre 80cm a 1,33m. Já a 600m metros a queda é de 291cm e a curva de 102cm, com um tempo de 1seg, o alvo pode se mover 1,6m a 2,7m dependendo se estiver andando ou correndo, por isso a maioria dos países chegou ao consenso após a 2° guerra que o alcance máximo de combate do soldado comum é de 300m, chamado alcance intermediário.

Em estudo mais recente, o “White Feather Study 1999”, do us army, foi constatado que um soldado sem treinamento específico para atirador de precisão, tem a “First-Shot-Success-Probability” (probabilidade se sucesso no primeiro tiro) em 600 jardas de apenas 2,9%.

Enquanto o Hit Probability (probabilidade de acerto), que se refere a capacidade do soldado se concentrar em disparar, apesar do recuo e do ruído da arma, de um soldado comum em acertar 3 alvos consecutivos a 600 jardas é de 1 em 37.037 tentativas.

O que pode mudar esses dados num futuro próximo são as novas miras “inteligentes”, com computadores balísticos e sensores aclopados, assim como novas munições com melhor coeficiente balístico, feitas em novos materiais para reduzir o peso, assim como armas com novos mecanismos para compensar o recuo, que poderá ser a próxima revolução do Campo de batalha terrestre.

Por: Russo Mike.

Fonte: https://maquinasdeguerrasite.wordpress.com/2022/04/29/tiro-de-combate/

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