CASO ORUAM – CORINGA, MARCINHO VP E O RELATIVISMO MORAL

O criminoso patológico não destrói apenas as vidas e as famílias de suas vítimas, não é raro que o veneno que ele espalha na sociedade acabe contaminando as pessoas do seu círculo mais íntimo. Se não pela violência do seu estilo de vida, pela degeneração mental decorrente em gerenciar o amor e admiração uma pessoa que tem como meio de vida a crueldade e a covardia. Que mesmo em uma cultura distorcida pelo relativismo moral, provoca uma dissonância perturbadora.

Uma manifestação típica foi a performasse do rapper Oruam, no festival Lollapalooza. Com metade do rosto maquiado como Coringa, o arqui-inimigo do Batman, conhecido por ser um psicopata sádico, e com o rosto de seu pai, Marcinho VP, impresso na camiseta, com a palavra liberdade abaixo, o “’artista’’ mostrou sua indignação pela prisão prolongada de um dos mais conhecidos líderes do Comando Vermelho.

Marcinho VP foi preso em 1996 e mesmo de assim continua ditando os rumos da maior facção criminosa do Rio de Janeiro. Fez sua carreira no crime através do tráfico de drogas, formação de quadrilha e assassinatos e cumpre uma pena de 44 anos de prisão. Atualmente é um dos residentes do presídio de Catanduvas, presídio de segurança máxima no Paraná. Sua prisão não foi suficiente para diminuir a influência e liderança em sua facção e, ainda hoje, é considerado um dos criminosos mais perigosos do país pela participação em crimes violentos e cruéis.

Em uma sociedade saldável os filhos de criminosos conhecidos teriam, no mínimo, receio de associar sua imagem ao do pai famoso. Na verdade, a maioria teria vergonha dos atos cometidos pelo pai. O impulso natural seria construir uma carreira profissional completamente apartada de qualquer conexão ou referência aos atos macabros do genitor, talvez a maior missão de suas vidas seria provar que a descendência não é fator determinante do caráter e que, ter um pai com histórico de vida ruim, não determinaria suas escolhas. No mínimo, tentaria evitar qualquer homenagem pública em respeito às vítimas dos crimes cometidos pelo pai famoso.

Como estamos vivendo no mundo invertido, onde há a glorificação de personalidades criminosas, nas mais diversas esferas Oruam não vê nenhum problema em manifestar-se pela libertação de seu pai. Isso só é possível porque provavelmente seu público também têm a consciência cauterizada e aceita generosamente a manifestação. A imprensa mainstream também não faz críticas, no máximo, classifica a performasse como polêmica.

Os atos de Marcinho VP não destruíram apenas as famílias de suas vítimas de assassinatos ou das milhares de pessoas contaminadas pelas drogas vendidas por sua facção. O veneno satânico entranhou-se na mente daquilo que é mais precioso até mesmo para um criminoso. Oruam escravo de um ambiente cultural relativista e deformador dos conceitos de justiça, modéstia e caridade, não vê nenhum problema em sugerir que seu pai sofre injustiça por estar preso a tanto tempo. Ele não consegue perceber que, mesmo amando seu pai, ele cometeu atos terríveis, que muitas famílias foram destruídas e vidas perdidas, e que sua atitude desperta um sentimento de revolta e indignação.

Caso estivéssemos em uma sociedade mais civilizada isto seria uma situação auto evidente. O bom filho continuaria a amar e respeitar o pai, mesmo sendo criminoso. Contudo, sua consciência jamais permitiria sugerir que sua prisão fosse injusta, ainda que fosse apenas por caridade às suas milhares de vítimas.

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